Símbolo da cruz é ressignificado ao longo dos séculos
Tanto no catolicismo romano quanto no ortodoxo, a cruz representa a vida e a morte de Jesus e também o estilo de vida por ele propagado
"Quando um cristão carrega a cruz no cordão, coloca na parede de casa, usa estampada na camiseta ou em uma tatuagem, não carrega apenas a recordação do assassinato de Jesus, carrega um ideal". É assim que o teólogo e editor da Revista Vozes, Welder Lancieri Marchini, analisa um dos maiores símbolos do cristianismo.
Tanto no catolicismo romano quanto no ortodoxo, a cruz representa a vida e a morte de Jesus Cristo e também o estilo de vida por ele propagado. "Seja com a imagem de Jesus, que chamamos de crucifixo, ou sem a presença do Cristo, a cruz que habita os altares, o alto das torres ou mesmo a parede de nossas casas nos lembra que o cristianismo não é apenas uma teoria um uma ideia, mas é um projeto de vida, um ideal que foi vivenciado com doação total pelos credores do homem de Nazaré", explica Marchini.
A pedagoga Suely Batista Rios, 51 anos, é católica e afirma que a cruz sempre esteve presente em sua casa. "Cresci ouvindo as histórias por meio de minha mãe, que sempre foi muito religiosa. Carrego um crucifixo, assim como o uso do escapulário em todos os lugares que vou. É meu amuleto", comenta.
Hoje utilizado como um objeto de proteção, a cruz já foi sinônimo de tortura, humilhação, fracasso e morte. "Povos antigos como os romanos e até os judeus utilizavam a cruz para expor pessoas condenadas por grandes crimes, como uma forma levá-las a vergonha pública", explica o doutorando em teologia Valdecir Ferreira.
Ao longo do tempo, a cruz foi ressignificada diversas vezes. "A cruz ganhou espaço pelas obras de arte. Foi pintada, esculpida, poetizada, escrita, teatralizada, tocada e cantada. São muitas as formas de representação da cruz. Ora popularizada pela via artística, ora revivida nas muitas cruzes do nosso povo, esse objeto se atualiza e é mostrado de inúmeras vias: em pessoas passando fome, morrendo sem assistência e dignidade, nas mães, nos trabalhos desumanos, na falta de dignidade, nas guerras, nas doenças incuráveis e em tantas outras formas de sofrimentos que se atualizam todos dos dias", comenta Valdecir, que considera a cruz também como um símbolo de renovação. "O adereço ou o enfeite cederá espaço para a memória contínua daquele que nos garante que a morte não é o fim e que o sofrimento é uma passagem que nos insere na dinâmica do mistério do próprio Jesus Cristo", finaliza.