Adiamento do Censo do IBGE impacta políticas públicas
Na visão de especialistas, o adiamento da pesquisa, que acontece a cada 10 anos e tem impactos sobre a economia, educação e saúde pública deixa o país no escuro.
Ao final de abril, foram publicadas novas informações sobre o orçamento público de 2021, e para quais setores os recursos financeiros públicos seriam encaminhados. Uma das opções que ficaram de fora do plano é o Censo Demográfico, que seria realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa, que acontece a cada 10 anos, não foi feita em 2020 por conta da pandemia de Covid-19 que comprometeu o país. Agora, mais uma vez o Censo será adiado, sem previsão de retorno para ser realizado. Mas, quais as consequências desta suspensão para o Brasil ?
De acordo com o economista Ricardo Paulo, é de suma importância que o Censo Demográfico seja realizado. “Precisamos saber quantas pessoas existem neste país, sua faixa etária, escolaridade, situação de vida, condições financeiras, e tudo o que acontece na cidade, estado em que mora, entre outros critérios”. O especialista lembra que todos estes fatores afetam diretamente o desenvolvimento do país.
O economista destaca que a ausência destes dados tem implicações sobre a educação, economia e políticas públicas. “Principalmente em um país como o Brasil, com dimensões enormes, com culturas e desenvolvimentos bem diversificados”. Na avaliação do economista, a relevância da realização do censo é tão significante que deveria ocorrer a cada cinco anos.
Segundo Ana Claudia Fernandes, mestre em sociologia e doutoranda em Ciências Sociais, a pesquisa por informações acerca da população é útil para o Governo entender a realidade de cada setor no país, e assim disponibilizar recursos em prol da parcela da sociedade que mais carece naquele momento. “A lógica da estatística é realmente tirar um retrato numérico, mas com interferências sociais para entender como essa população vive”, afirma.
A especialista aponta ainda que diante de uma coleta de dados, é possível entender melhor o cenário de desigualdade social, as diferentes fontes de renda, e como questões de etnia e gênero interferem na obtenção dessa renda. Assim, é possível compreender o espaço territorial e como este local se aproxima ou se distancia da garantia dos direitos sociais. “Quando a gente tem a realização do censo feito pelo IBGE, nós temos esse retrato social e, a partir disso, as políticas públicas são pensadas ou repensadas”.
Na avaliação do economista, o impacto “é muito grande”. Por conta desta falta de catalogação nas regiões, além da sociedade civil de classe baixa mais dependente dos recursos públicos, a indústria, o comércio e serviços também são afetados e, por consequência, grandes investidores internacionais perdem interesse em investir em um país sem Censo Demográfico.
Este atraso na eficácia de políticas públicas também está ligado às necessidades de saúde da população, segundo Ana Claudia. “Então, como eu vou saber qual a parcela da população que precisa de maneira mais urgente de hospitais com condições básicas de atendimento e saúde, para combater não apenas a pandemia, mas principalmente pessoas com comorbidades e necessidades específicas?”, indaga. A socióloga completa, dizendo que não saber qual a necessidade de cada região é “extremamente prejudicial”, é como agir no escuro. “Esse escuro pode comprometer a organicidade e a vida de milhares de pessoas”, finaliza.