Entenda como funciona a lógica do real x dólar
Economista explica quais são as causas para oscilações da cotação do dólar em relação ao real e como isso afeta a população
Na última semana o cenário econômico brasileiro apresentou volatilidade, quando o dólar foi cotado abaixo dos R$ 5, o que não acontecia desde junho de 2020, quando estava avaliado em aproximadamente R$ 4,9. Entretanto, ao longo da pandemia de Covid-19, a moeda americana registrou picos de alta, como em maio de 2020, quando estava próximo dos R$ 5,8.
De acordo com Nilza Aparecida dos Santos, professora de economia e gestão financeira na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec) em Cotia, existe uma lógica quando se trata de valorização e desvalorização da moeda brasileira. Uma vez que o Brasil adotou o regime de taxa de câmbio flutuante, para que o real venha a ficar mais valorizado, vai depender de como está a entrada e saída da moeda estrangeira do país. “Quanto maior a taxa de câmbio, mais desvalorizada é a nossa moeda [real], o que favorece as exportações. Quanto mais valorizada, mais favorecida são as importações”, explica a especialista.
Desta forma, as exportações e importações passam a ter papel fundamental dentro do sistema de câmbio no país. Segundo Nilza, o real também é afetado pelo cenário econômico do exterior, visto que o Brasil depende do investimento estrangeiro para captar dólares. “Assim como no cenário externo, o interno também interfere na composição de risco que o país oferece e, em momentos de turbulência, os investidores tendem a tirar recursos de países emergentes e investir em mercados considerados mais seguros”. A professora completa explicando que, se temos menos dólares circulando, a tendência é de desvalorização cambial, e assim, um aumento da taxa de câmbio.
Fatores como este podem ser considerados como índices para uma possível projeção de como estará o mercado econômico brasileiro, ainda que seja um apontamento pouco objetivo. De acordo com Nilza, a volatilidade da taxa de câmbio ainda é alta, mas existem indicadores relacionados à política fiscal (orçamento 2021), a avanços no sentido das reformas (tributárias/administrativas) necessárias e à vacinação que segue no país (mesmo em ritmo lento), que sinalizam uma melhora na avaliação de risco do Brasil no cenário externo.
Diante deste cenário o Brasil também possui a taxa de juros básica (Selic), a taxa básica de juros da economia, que se encontra em 4,25% ao ano, o que contem a inflação, mas por outro lado, desestimula consumo e investimento. “Dessa forma, os juros mais altos são mais atrativos para os investidores que acabam por mandar mais dólares para o país. A queda do dólar contribui para conter a inflação, visto que as importações se tornam mais baratas. Mas o desestímulo ao consumo e ao investimento podem levar à retração da economia que dava sinais de crescimento”. Nilza completa dizendo que esse encolhimento econômico consequentemente pode trazer mais desemprego.
Quando se tratam de prognósticos, inúmeros fatores devem ser levados em consideração, uma vez que o preço das moedas sofre impacto das taxas de juros de cada país, junto a questões políticas e outros fundamentos macroeconômicos. “O valor da taxa de câmbio depende do valor do dólar e do real e do cenário econômico de cada país. E ainda temos uma pandemia que torna qualquer prognóstico ainda mais complicado”. A professora de economia avalia que dificilmente a taxa de câmbio possa um dia voltar ao patamar de R$ 2, por exemplo, mas na economia tudo é dinâmico e pode mudar a qualquer momento. “Depende das ações dos agentes que compõem o sistema econômico”.