Especialista em tributação explica aumentos do combustível
Consultor tributário fala sobre a influência do dólar na alta dos preços. Ex-motorista de aplicativo admite que custo elevado da gasolina o motivou a desistir de trabalhar na área.
Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o preço médio do litro da gasolina comum nos postos de combustíveis no país chegou a R$ 6,71, na semana entre 31 de outubro e 6 de novembro. Com os preços em constantes oscilações, o consumidor fica preocupado se vai conseguir fechar a conta na hora de abastecer.
Para o professor de contabilidade e consultor tributário Rogério Moura, existem vários fatores que influenciam no preço do combustível. “Precisamos entender a composição da base. Nossa política de preço tem referência ao dólar, fazendo com que o preço do barril sofra alterações constantes e imprevisíveis, pois vai depender do cenário econômico mundial, da crise em decorrência da pandemia que contribuiu para o aumento, pois os impostos são cobrados pelo preço. Quanto maior a base, maior serão os tributos, alavancando o preço final”, esclareceu.
Sobre os impostos, o consultor explica que a porcentagem não teve consideráveis acréscimos nós últimos anos, pois o que alavanca os impostos é o preço do barril. Ou seja, quanto maior o preço, mais o consumidor sofrerá no bolso. Rogério sugere que, para amenizar o impacto, seria necessário alterar a base dos impostos, fazendo com que eles sejam de forma fixa, não influenciando em aumento direto. “Mas o problema não será resolvido. Ainda assim, se houver aumento do dólar, consequentemente o preço sobe. É um problema em cascata”, explicou.
Com relação às pessoas que não teê um veículo convencional (carro ou moto), Rogério alerta: “Mesmo que a pessoa não faça aquisição de combustível, vai sofrer o impacto deste aumento, justamente nos alimentos e em todas as mercadorias adquiridas oriundas de fretes, pois haverá aumento neste serviço influenciando nos preços de todos os commodities”.
Para o ex-motorista de aplicativo Helton Paiva, a ideia de atuar na área surgiu quando ele perdeu o emprego formal devido à pandemia. “Foi um meio de conseguir uma renda de forma rápida enquanto tentava uma recolocação no mercado. Isso aconteceu com quase todos os motoristas de aplicativos. Tínhamos um emprego fixo e tivemos que aderir à categoria para ter uma renda”, afirmou.
Helton explica que as vantagens de atuar como motorista de aplicativo são poucas. Uma delas, pregada por todas as plataformas, é que os motoristas que fazem seus próprios horários, além da flexibilidade para trabalhar. “Essa flexibilidade existe, mas se você não trabalha, você não terá renda. É fato que você pode trabalhar em qualquer horário e dá para resolver vários assuntos pessoais, mas depois terá que trabalhar quase que dobrado para ter a renda no final do dia ou quase sempre entrando pela madrugada”, esclareceu o ex-motorista.
Sobre a alta dos combustíveis, ele afirma ser o principal motivo para desistir da área. Seu custo com combustíveis era de R$ 100,00 para rodar o dia inteiro e precisava ganhar pelo menos R$ 200,00 com as corridas. “Outro motivo é a taxa que fica com o motorista não acompanhar o aumento dos preços, tais como manutenção, peças, higienização, seguros etc. No final das contas o que fica para o motorista não está pagando o dia de trabalho (oito horas rodando). Há uns cinco meses esse cenário era totalmente diferente, você podia rodar até mesmo seis horas que ficaria com uma boa renda mesmo tirando o custo para isso. Hoje já não rodo porque ficou insustentável. Apenas as plataformas ganham e nós, motoristas, sendo espremidos para ter o mínimo de lucro para fechar o dia no positivo”, concluiu.
Por Cássio Kennedy.