Família encontra bebê desaparecido do aeroporto de Cabul

A criança se reuniu com sua família, após cinco meses de separação

seg, 10/01/2022 - 11:37
Mohd RASFAN Separado da família no caos das retiradas no aeroporto internacional de Cabul em agosto de 2021, Sohail Ahmadi (centro) voltou a se reunir com sua família na casa do avô, na capital afegã, em 9 de janeiro de 2022 Mohd RASFAN

Entregue a um soldado estrangeiro, Sohail Ahmadi desapareceu em 19 de agosto, em meio ao caos da retirada de Cabul. Na semana passada, o bebê se reuniu com sua família, após cinco meses de separação.

Então com dois meses de idade, Sohail foi entregue pelo pai a um soldado, que olhava de cima uma multidão aterrorizada com a chegada dos talibãs ao poder, depois de tomarem a capital afegã.

Assim, pai e criança se separaram.

Apesar de suas intensas buscas, foi impossível para Mirza Ali Ahmadi recuperar seu bebê. Foi um taxista, Hamid Safi, que o encontrou, chorando e abandonado no chão do aeroporto.

"Procurei a família dele", conta o jovem, de 29 anos, que foi ao aeroporto deixar seu irmão, que seria retirado do país. "Então, liguei para minha mulher, que me disse para levar o bebê para casa".

O casal diz ter procurado, sem sucesso, os pais da criança. Deram-lhe o nome de Mohamad Abed e começaram a criá-lo.

"Se não tivéssemos encontrado sua família, teríamos protegido e criado ele como nosso próprio filho", explica Hamid Safi.

Durante três dias, o verdadeiro pai de Sohail procurou seu filho no aeroporto lotado. Desesperado, este ex-agente de segurança da embaixada dos Estados Unidos partiu com a esposa e quatro filhos para este país.

Em agosto, o aeroporto de Cabul foi tomado por afegãos ansiosos para deixar a cidade junto com as últimas tropas ocidentais, após 20 anos de guerra.

Vários afegãos temiam o retorno dos islamistas ao poder, lembrando-se do cruel regime dos anos 1990, ou temendo represálias contra colaboradores do governo anterior, ou das forças estrangeiras.

- 'Como sua mãe' -

Somente na semana passada a família de Sohail conseguiu encontrar o bebê em Cabul, com a ajuda das redes sociais e da polícia.

O menino foi entregue ao avô, uma separação dolorosa para o casal Safi e suas três filhas.

"Me sentia responsável por ele, como se fosse sua mãe", afirma Fatimah Safi, de 27 anos. "Ele tinha o hábito de acordar durante a noite (...) Agora, quando eu acordo, ele não está lá, e isso me faz chorar", desabafa.

"Sou mãe. Entendo que nem sempre estará conosco e que precisa dos pais", continua a mulher.

Seu marido admite que "foi muito difícil" devolver o bebê.

No domingo, o avô de Sohail, Mirza Mohamad Qasemi, convidou a família Safi para sua casa em Cabul para compartilhar alguns momentos com o menino.

"Cuidaram dele durante cinco meses e estavam muito apegados a ele", disse o avô à AFP, acrescentando que, de início, os Safi relutaram em devolver o bebê.

Qasemi, que também procurou seu neto, agora diz estar animado com a ideia de que Sohail possa se reunir com seus pais nos Estados Unidos. Eles entraram em contato com as autoridades americanas, mas o procedimento será longo.

"Foi difícil para minha filha. Ela chorava e não comia nada", relata o pai, enxugando as lágrimas, enquanto observa Sohail dormindo nos braços de Fatimah.

Até Sohail se reunir com seus pais, sua tia cuidará dele.

Ao telefone, o pai não escondeu a alegria: "Ficamos muito tristes nos últimos cinco meses (...) Mas quando encontramos nosso bebê. Estamos felizes, porque Deus nos devolveu nosso filho".

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