Tamarineira: 'doerá até meu último dia de vida', diz pai

Um dos sobreviventes da tragédia que matou três pessoas, Miguel comparece nesta terça-feira (15) ao julgamento do caso no Recife

por Vitória Silva ter, 15/03/2022 - 10:46

O acidente que ficou conhecido como 'Tragédia da Tamarineira' é julgado nesta terça-feira (15), na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, alocada no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, no bairro de Joana Bezerra, área central do Recife. Pela primeira vez em anos, haverá o reencontro do pai Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, de 49 anos, e o réu João Victor Ribeiro de Oliveira, motorista responsável por provocar a colisão que matou três familiares de Miguel e deixou sua filha Marcela com trauma permanente. 

Abalado, o sobrevivente chegou ao Fórum já sem voz e afirmou não ter dormido, pois está “debilitado fisicamente e psicologicamente arrasado” e relatou que tem sido difícil precisar relembrar o acidente que deixou sua filha gravemente ferida. Miguel, no entanto, torce por um julgamento justo e a aplicação de pena máxima.  

“Para mim, a condenação não vai representar basicamente nada. Como cidadão, será um grande avanço a gente conseguir tipificar isso como doloso e uma condenação máxima seria um pequeno passo para uma sociedade mais justa e humana. Ameniza um pouco a dor de toda a sociedade. A minha dor não é apenas da perda da minha família, é de todos os dias acordar e ver a minha filha, que era perfeita, estar desse jeito aí. Mas amanhã estarei melhor do que hoje, e assim vou cumprir meu propósito”, afirmou o pai. 

João Victor é réu por triplo homicídio doloso duplamente qualificado e por dupla tentativa de homicídio. A sentença será proferida após a oitiva das vítimas e sobreviventes, oito testemunhas e o interrogatório do réu. 

“É impossível estar preparado para hoje. É uma pena que não vai significar muita coisa para mim, porque a minha dor será estendida até o último dia da minha vida. Em breve ele estará livre, como diz a lei e como deve ser, mas cabe à gente, à sociedade, mudar esse pensamento egoísta de satisfazer os seus prazeres de beber e dirigir e não se responsabilizar pelo que faz. O perdão não será meu, será de Deus. Eu não tenho que perdoar ninguém, só seguir a minha vida com a minha filha”, concluiu Miguel, a caminho do Tribunal. 

A babá Rosiane Maria é representada, em júri, pelos interesses da filha Valentina, que tinha três anos à época do acidente que tirou a vida de sua mãe. Quem representa o caso é o advogado e assistente de acusação Marcelo Pereira. De acordo com o defensor, a principal reivindicação da família é a aplicação da pena máxima.  

“Semana passada eu conversei em particular com a família e foi externado que o desejo é de justiça. O trauma é muito grande, é uma perda irreparável e que traumatizou toda a família. Se espera que ele seja condenado com pena máxima, pelos crimes de triplo homicídio duplamente qualificado, e pelas duas tentativas. Resta inequívoco no processo essa configuração”, disse o advogado. 

O acidente 

Na colisão, a esposa Maria Emília Guimarães, de 39 anos, o filho Miguel Arruda da Motta Silveira Neto, de três anos, e a babá Rosiane Maria de Brito Souza, grávida de quatro meses, morreram. A filha mais velha do casal, Marcelinha, hoje com nove anos, sofreu um grave traumatismo craniano e ficou internada por dois meses após o acidente, e faz tratamento até hoje. A menina vive com o pai, o advogado Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, de 49 anos, e único outro sobrevivente da tragédia. 

De acordo com a Polícia Civil, João Victor havia ingerido álcool por muitas horas consecutivas, em uma festa local, misturando, inclusive, bebidas como cerveja e uísque. Perícias técnicas apontaram que o veículo conduzido pelo estudante de engenharia estava a 108 quilômetros por hora, quando o máximo permitido na via em que ele trafegava é de 60 quilômetros por hora. 

A batida aconteceu por volta das 19h30, no cruzamento da Estrada do Arraial com a Rua Cônego Barata, no bairro da Tamarineira. Ainda de acordo com a polícia, o veículo onde viajava a família de quatro pessoas e a babá, que estava grávida, seguia pela Estrada do Arraial, no sentido Casa Forte, na mesma região, quando o outro carro avançou o sinal e causou a colisão. A caminhonete da família estava a cerca de 30 quilômetros por hora. 

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