O que as prefeituras têm feito para evitar os alagamentos?

O LeiaJá procurou as gestões de Recife, Olinda e Jaboatão para saber quais intervenções têm sido feitas para controlar os impactos das chuvas nas rotina das cidades

ter, 21/03/2023 - 13:52
Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo Homens atravessam alagamento no Grande Recife Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

A chuva intensa que caiu nesta semana voltou a alagar ruas e avenidas do Grande Recife, a maioria já conhecida por não suportar os períodos chuvosos. Um ano após o sofrimento de centenas famílias que perderam parentes e ficaram sem moradia no temporal mais severo das últimas décadas, como as prefeituras têm atuado para controlar a incidência de enchentes? 

 Logo em sua primeira noite, o outono deu uma prévia de como 2023 pode se comportar do ponto de vista meteorológico. A situação só não ficou ainda mais complicada pela estabilização da maré na maior parte da manhã. O LeiaJá procurou as gestões de Olinda, Recife e Jaboatão para compreender quais estratégias foram traçadas e o que foi posto em prática para mitigar os impactos dos alagamentos no trânsito e na rotina dos moradores.  

O cuidado com a drenagem urbana é uma das responsabilidades dos gestores públicos. Ela está associada ao sistema de escoamento pluvial e tem o objetivo de fazer com que o volume de água das chuvas percorra a cidade o mais rápido possível até que seja recebida por rios capazes de suportar sua capacidade. 

Esse trajeto, se mal estruturado, torna a função de escoamento ineficaz, resultando em enchentes e áreas historicamente alagadas. Além do risco à saúde e à integridade física dos moradores, o desequilíbrio dessa rede prejudica os comércios e trava as cidades enquanto não houver estiagem.  

O planejamento e a capacidade de atuação de cada prefeitura são fatores fundamentais para evitar a falha desses dois sistemas. Enquanto a microdrenagem se volta à disposição de dutos e intervenções que devem acompanhar o processo de urbanização, a macrodrenagem corresponde ao trato com a rede natural de rios e córregos com o menor impacto possível.







Uma negligência histórica

O professor da Uninassau e mestre em Engenharia Urbana e Ambiental, Deyglis Fragoso, citou os processos de intervenção tardios do Estado, a expansão urbana precarizada em áreas ambientalmente fragilizadas e a falta de dinâmica sobre educação ambiental como agentes causadores das enchentes. Mesmo com décadas de acompanhamento referente aos índices de precipitações e a capacidade de projetar a quantidade de chuva que vai cair, parte da cidade se sustenta em aterros. 

"Você tem a relação do assoreamento desses cursos de água com o nível da maré, o sistema de drenagem extremamente fragilizado e ainda sobrecarregado com ações antrópicas [...] essa população de baixa renda muitas vezes descarta seus dejetos, que vão se acumulando ao longo do curso de água. Isso chega obviamente na região da desembocadura", pontuou.  

No sentido da densidade construtiva em zonas de alagados, Fragoso salientou que esse contexto acabou sendo preservado de forma cultural. Comunidades historicamente abandonadas pelo poder público passaram a morar às margens dos rios para sobreviver da pesca e da coleta de marisco. Outro ponto que sustenta a demora para uma solução é a falta de unidade política para que os projetos de melhoria das bacias hidrográficas do Capibaribe, Beberibe e Tejipió saiam do papel para reverter o cenário de descaso. 

Na visão do professor, é possível reduzir as enchentes a curto prazo com a manutenção frequente ao longo do ano. Porém, mesmo antes de rever toda estrutura e material usado para o sistema de drenagem, é fundamental propor a requalificação das áreas de margem dos rios com o deslocamento dos moradores para outras regiões, fomentando a educação ambiental à toda população. 

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Como atuam as prefeituras

No Recife, a Prefeitura informou que todas as áreas atingidas no último inverno estão sendo atendidas e que o assunto é operacionalizado pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), através da Ação Inverno. 

Em nota, a gestão explicou que começou a limpeza dos 99 canais que cortam o município em janeiro, sendo investidos R$ 8,5 milhões. Outra intervenção realizada pela autarquia é o andamento das obras para eliminar pontos críticos de alagamento na Rua da Concórdia, Rua Imperial e Avenida Sul, onde estão sendo investidos cerca de R$ 12 milhões. 

Além de atuar na contenção, prevenção e monitoramento em áreas de risco, outro eixo destacado pela Emlurb é a conscientização para sensibilizar a população sobre a importância de não jogar lixo nos canais, galerias e encostas. 

Em Olinda, a Prefeitura esclarece que tem executado a limpeza dos canais, com destaque ao Canal da Malária, Canal do Matadouro, Canal Graviúna e Canal Ouriço do Mar. Em relação à microdrenagem, a Secretaria Executiva de Manutenção Urbana aponta que faz a limpeza de canaletas e galerias na Rua Timbiras, em Cidade Tabajara, e no cruzamento da Avenida Brasília com a Rua Paraná, em Jardim Brasil. 

Em Jaboatão dos Guararapes, a Secretaria Municipal de Infraestrutura apontou que realiza a implantação e substituição do sistema de drenagem e vem realizando a limpeza das galerias em dezenas de vias, com mais de 200 trabalhadores voltados ao serviço até agosto.  

A gestão também destacou que os moradores de Candeias e Barra de Jangada serão beneficiados com a limpeza profunda nos braços da Lagoa Olho D’água, inclusive, um desses braços ficará com cerca de um metro de profundidade. Outra mobilização se dá em torno da limpeza e desassoreamento dos canais Mariana, em Muribeca; Canal de Santo Aleixo e o Aniceto Varejão, em Candeias.

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