Famílias em luto e críticas após implosão de submersível

O submersível 'Titan', de 6,5 metros de comprimento, mergulhou no domingo, mas perdeu a comunicação menos de duas horas após o início do mergulho turístico

sex, 23/06/2023 - 09:07
Joël SAGET, Handout Passageiros que viajavam no submersível Titan (da esquerda para a direita):acima, Hamish Harding e Stockton Rush;abaixo, Paul-Henri Nargeolet e Suleman Dawood com seu pai Shahzada Dawood Joël SAGET, Handout

As famílias dos cinco passageiros do submersível que implodiu no fundo do Atlântico perto dos restos do "Titanic" estão de luto nesta sexta-feira (23), enquanto aumentam as críticas sobre possíveis negligências de segurança.

James Cameron, diretor do filme "Titanic" e um explorador apaixonado pelo fundo do mar, acusou na quinta-feira a empresa organizadora da expedição, OceanGate Expeditions, de "ignorar" as advertências de segurança.

Mas, segundo Guillermo Söhnlein, cofundador da empresa junto com o americano Stockton Rush, que morreu no acidente, este último "estava extremamente comprometido com a segurança".

"Mitigar riscos era parte fundamental da cultura da empresa", declarou à emissora britânica Times Radio Söhnlein, nascido na Argentina, que deixou a empresa em 2013. Ele também lembrou que o próprio Cameron visitou os destroços do Titanic várias vezes para produzir seu filme de 1997, um sucesso internacional.

Parentes de duas vítimas, o empresário Shahzada Dawood, 48 anos, e seu filho Suleman, 19, cidadão paquistanês-britânico, expressaram sua "profunda tristeza". Eles eram membros da família que fundou um dos impérios industriais mais bem-sucedidos do Paquistão.

A família do empresário e magnata da aviação Hamish Harding, 58 anos, outra vítima da tragédia, prestou homenagem a um "explorador apaixonado" e a um "marido que amava a esposa e pai dedicado aos dois filhos".

A Guarda Costeira dos EUA e a OceanGate Expeditions anunciaram na quinta-feira que os passageiros do submersível desaparecido desde domingo morreram na "implosão catastrófica" da embarcação.

Além de Shahzada Dawood e seu filho, de Hamish Harding e do americano Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, também morreu o experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, 77 anos, apelidado de "Mr. Titanic".

"Acreditamos que nosso CEO Stockton Rush, Shahzada Dawood e seu filho Suleman, Hamish Harding e Paul-Henri Nargeolet estão infelizmente mortos", lamentou a OceanGate em um comunicado, após quatro dias de buscas que cativaram o mundo.

O "campo de detritos" encontrado por robôs de busca perto do mítico "Titanic", a quase 4.000 metros de profundidade, "são consistentes com uma implosão" do submersível, anunciou o contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira dos Estados Unidos.

Em entrevista coletiva em Boston, ele também informou que a causa do acidente foi uma "perda catastrófica de pressão" no submersível.

Assim que o resultado foi anunciado, o Wall Street Journal revelou que a Marinha dos Estados Unidos havia detectado no domingo, logo após a perda de contato com o submarino, um sinal que indicava a provável implosão do submersível.

- Verdadeiros exploradores -

"Esses homens eram verdadeiros exploradores que compartilhavam um forte espírito de aventura e uma profunda paixão por explorar e proteger os oceanos do mundo", afirmou a OceanGate em um comunicado, no qual lamenta a morte da tripulação.

O contra-almirante americano Mauger expressou "sinceras condolências" às famílias dos desaparecidos.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, lamentou a "notícia trágica" no Twitter e expressou "apoio" às famílias e suas "profundas condolências" em nome do governo.

Estados Unidos e Canadá mobilizaram grandes recursos até a manhã de quinta-feira, incluindo aeronaves C-130, P3 e naves equipadas com robôs submarinos, para continuar as buscas em suas costas, onde foi localizado o "Polar Prince", navio de apoio do submersível de turismo.

A área de busca na superfície se estendeu por mais de 20.000 km2.

- Possíveis negligências -

O submersível "Titan", de 6,5 metros de comprimento, mergulhou no domingo, mas perdeu a comunicação menos de duas horas após o início do mergulho turístico. Tinha uma autonomia teórica de 96 horas de oxigênio.

Em meio às buscas durante a semana foram divulgadas informações que comprometiam a Oceangate sobre possíveis negligências técnicas do submersível.

Uma ação civil nos Estados Unidos em 2018 mostra que um ex-diretor da empresa, David Lochridge, foi demitido após expressar sérias dúvidas sobre a segurança do "Titan".

A OceanGate, que fabricou e operou o submersível, e que cobrava US$ 250.000 por assento (R$ 1,1 milhão, na cotação atual), levava turistas aos destroços do "Titanic", cujo naufrágio matou quase 1.500 pessoas em uma das maiores catástrofes marítimas da história.

Após a tragédia, a organização Titanic International, que trabalha para preservar a história do mítico transatlântico, pediu o fim das expedições turísticas.

"É hora de considerar seriamente se as viagens humanas ao naufrágio do 'Titanic' devem acabar em nome da segurança", afirmou a organização no Facebook, defendendo "veículos submarinos autônomos".

Os destroços do transatlântico, a quase 600 km do continente, tornaram-se um lugar de sonho para aventureiros e turistas ricos e intrépidos desde que foram descobertos em 1985.

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