O último caminho de Campos: do Palácio ao descanso eterno

O carinho do povo pelo ex-governador e presidenciável foi o marco do cortejo deste domingo (17)

por Nathan Santos dom, 17/08/2014 - 21:26

Como medir o carinho do povo por um homem público? Talvez seja uma tarefa que não é possível de ser feita, porém, o Recife viveu neste domingo (17) um momento histórico e que mostrou a todos os cantos do Brasil os sentimentos das pessoas por um político: respeito, tristeza, agradecimento e saudade. Milhares de pessoas seguiram os restos mortais do ex-governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo Campos. Foram do Palácio do Campo das Princesas, área central da capital pernambucana, até o desfecho no Cemitério de Santo Amaro.

Os relógios marcavam mais ou menos 16h30, quando o cortejo, conduzido pelo caminhão do Corpo de Bombeiros, saiu do Palácio com destino ao cemitério. Amigos, familiares e autoridades seguiram o percurso no veículo, todos movidos pela emoção de se despedir de Campos. Mas foi o povão, vindo de várias cidades nordestinas e em meio a muito aperto e calor, que deu com vigor o último adeus ao ex-governador. “Eduardo, guerreiro, do povo brasileiro” foi o grito entoado pelos admiradores. Questões políticas também incentivaram outro grito: “Fora PT!”.



Nas ruas do centro do Recife, tanto as pessoas que acompanharam o cortejo, quanto o público que aguardava o caixão com os restos mortais, acenaram e entoaram gritos de apoio à família Campos. Renata (esposa) era uma das mais acarinhadas pelo povo, além de João, de 20 anos, filho mais velho de Eduardo e cogitado para seguir os caminhos políticos do pai. O pedido a Marina Silva, até então candidata a vice, também foi destaque: “Marina presidente”. Crianças, jovens, idosos, negros, brancos, enfim, pessoas diversas formaram o “mar de admiradores”.

E nesse mar, em meio à multidão, dona Nazinha da Silva, cabeleireira do bairro de João de Barros, no Recife, teve a dura, porém honrada missão de conduzir sua filha, Natália Maria da Silva, 27 anos. A jovem tem deficiência física, causada por um problema de parto no seu nascimento. Natália é fã de Eduardo e pediu à mãe para acompanhar o cortejo. “Ela ama Eduardo. A morte dele nos deixou muito tristes mesmo. Eu não podia deixar de trazer ela. Nós tínhamos que nos despedir dele”, disse dona Nazinha.



Os cabelos brancos do aposentado Tomáz de Aquino, de 80 anos, se destacava entre a multidão que aguardava o fim do cortejo próximo à entrada principal do Cemitério de Santo Amaro. A idade não foi problema para ele, que, como um jovem atleta, percorreu todo o percurso a pé. “Eu gostava muito de Eduardo Campos e ele gostava muito do povo de Pernambuco. A tristeza no meu coração é enorme. Quase não acredito. Eduardo morreu, a família sofre e o Brasil perdeu”, falou o aposentado.



Na entrada do Cemitério, soldados da Polícia Militar de Pernambuco aguardavam a passagem do corpo para uma homenagem. A salva de tiros foi uma das homenagens prestadas pela PM, fato que orgulhou o cabo José Carlos Neves. “É um sentimento de tristeza que guardo em mim, mas, de muito orgulho também. Eu faço parte da história. É uma honra para mim”, relatou, antes dos tiros.



De portões abertos, o Cemitério de Santo Amaro aguardava a chegada do cortejo. Além da multidão que acompanhava o caminhão dos Bombeiros, outro grande número de populares ansiava para se despedir do corpo de Eduardo. Muita gente queria registrar o fato histórico e para isso foi necessário se agruparem em cima de altos túmulos para fotografar. Porém, por causa do grande número de pessoas, em alguns momentos, houve tumulto e alguns se machucaram.



Passava das 19h quando o corpo de Eduardo Campos foi colocado na cova, ao lado do corpo de seu avô, Miguel Arraes, sepultado em 2005. Os gritos de carinho por Campos foram somados ao barulho ensurdecedor de cerca de 20 minutos de fogos. Chegava ao fim a dolorosa despedida do homem que queria e sonhava em ser presidente da República, mas pode ter mudado - e sem dúvida marcou - a história do Brasil mesmo sem se eleger.

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