Crises entre PT e PMDB desafinam o ritmo da aliança
Nos últimos meses linha tênue que une os dois partidos tem ficado cada vez mais fina
O relacionamento entre o PT e o PMDB não é dos mais afinados há algum tempo e nos últimos meses linha tênue que une os dois partidos tem ficado cada vez mais fina. O racha entre as legendas é mais evidente no Congresso Nacional, onde o PMDB preside tanto a Câmara, com Eduardo Cunha (RJ), quanto o Senado, com Renan Calheiros (MA). Nessa semana, por exemplo, Calheiros foi o pivô de mais um imbróglio entre os aliados. Ele devolveu a presidente Dilma Rousseff (PT) uma Medida Provisória, que promovia ajustes fiscais, com a justificativa de que a petista "deturpava" o conceito da separação dos Poderes.
A medida foi observada por petistas como “intransigente”. “Uma decisão como essa pode ter uma dimensão que extrapola o nosso desejo. A sociedade, com isso, só acredita que vivemos um enfrentamento entre poderes”, pontuou o senador Humberto Costa (PT), na ocasião.
Com tantos “toma lá da cá” a principal indagação é: para onde deve seguir essa relação desgastada entre os dois partidos? Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira, as crises entre os dois partidos “são absolutamente normais” e demonstra que uma das partes deseja “algo a mais”, neste caso o PMDB.
De acordo com o estudioso, os embates políticos “fazem parte da relação” e “não significa o fim da aliança”. “Não podemos ver isso como ineditismo. Qualquer relação entre partidos é uma relação de troca. Quando alguém está insatisfeito você oferece esse algo a mais, o PMDB já teve contrapartidas, agora deseja mais do PT”, analisou Oliveira.
Na visão petista, algumas alas do PMDB têm agido na tentativa de enfraquecer o Governo Federal e, apesar disso, o PT precisa conviver com a legenda pela força política que ela exerce no Congresso Nacional.
“É um aliado que tenta mais enfraquecer do que enaltecer. É um jogo de correlação de forças, um jogo de barganha”, frisou o ex-deputado federal, João Paulo. “Tem que se conviver. O PMDB tem um peso importante no Congresso, agora quem tem que ver o limite de negociação com eles é a presidência”, acrescentou o pernambucano.
Já para líderes do PMDB, “a aliança deve ser revista”. “É preciso encontrar seu ponto de equilíbrio. Ela nunca foi 100% resolvida, 100% pacífica, mas ela já teve momentos melhores. Já teve momentos muito ruins e acho que hoje está num momento de muita reflexão”, observou o líder peemedebista na Câmara, o deputado Leonardo Picciani (RJ).
Outro assunto melindre entre petistas e peemedebistas, é a divulgação da lista dos políticos envolvidos com a operação Lava Jato encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). A expectativa é de que os nomes sejam divulgados nesta sexta-feira (6), mas nos bastidores já são confirmadas a presença de lideranças dos dois partidos. O que deve marcar o início de um novo embate entre as legendas.