Dilma: ''não tenho de renunciar, me suicidar ou fugir''

A petista começa a ser julgada nesta quinta-feira (25) pelo crime de responsabilidade. Dilma irá ao Senado na próxima segunda-feira (29) para defender 'o projeto político que eu represento e os interesses legítimos do povo'

por Giselly Santos qui, 25/08/2016 - 09:41

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) afirmou que a democracia no Brasil “não caiu do céu e não surgiu do nada” durante um ato em Defesa da Democracia, na noite dessa quarta-feira (24), em Brasília, um dia antes do início do seu julgamento no Senado Federal por crime de responsabilidade. Lembrando que nessa quarta completou-se 62 anos do suicídio do presidente Getúlio Vargas, Dilma disse que Vargas se matou para impediu uma ruptura democrática no país. 

“Queria preservar a democracia no nosso país e sabia que ela estava em risco naquele momento. E ele adiou o golpe por muito tempo”, avalia. “Hoje, eu não tenho de renunciar nem me suicidar, não tenho que fugir pro Uruguai, é outro momento histórico. Vou ao Senado defender a democracia, o projeto político que eu represento, defender os interesses legítimos do povo brasileiro e, sobretudo, construir os instrumentos que permitam que isso nunca mais aconteça em nosso país”, acrescentou, repetindo que há um golpe em andamento no Brasil e que ela está sendo punida mesmo sem ter cometido crimes. 

Para a petista, hoje novas eleições são a única maneira de combater a “ruptura democrática” que está em curso no país: “Vai ser necessária uma eleição para recompor todas as instâncias democráticas de nosso país. É impossível não ver criticamente uma coisa: estão tentando substituir um colégio eleitoral de 110 milhões de pessoas, os brasileiros que votam, por um colégio de 81 senadores”, disse.

Dilma disse que “sem sombra de dúvida” é possível concluir que os votos que recebeu foram a favor da política de valorização do salário mínimo, de programas sociais como o Prouni, o Fies e outros de inclusão baseada em cotas, pelo modelo de partilha do pré-sal, a favor do Bolsa Família, do Mais Médicos e de outras políticas sociais, projeto diferente do defendido pelo presidente interino Michel Temer.

“Votamos contra as políticas tradicionais que estamos vendo que, primeiro sorrateiramente e depois, de forma descarada, tomaram conta do debate político no nosso país e agora se apresentam como solução para os problemas do país.” Como exemplo, citou a PEC 241, que pretende congelar os gastos da educação e da saúde em termos reais por vinte anos, o que, segundo ela, significa a redução do gasto em educação e da saúde e que vai comprometer a qualidade dos serviços.

Ao analisar os motivos que levaram a esse processo de impeachment, Dilma concluiu que é o resultado de quatro derrotas sistemáticas da oposição nas quatro últimas eleições presidenciais. “Na quarta, entornou o caldo para eles, quando eu fui reeleita”. A partir daí, segundo ela, teve início a tentativa de impor ao país uma eleição indireta, feita pelo Congresso Nacional. “É disso que se trata. Na eleição direta, milhões discutiram o programa. Na indireta, só 81 discutem o programa. É isso que foi feito no nosso país e não podemos concordar”, afirmou.

Dilma fechou o discurso dizendo que na vida “a gente sempre tem que lutar” e que esse processo de impeachment mostrou para ela que não existe democracia garantida: “Eu achei, em determinado momento da minha vida, que nunca mais eu ia ver processos arbitrários, que eu nunca mais ia ver rupturas democráticas e golpes de estado, e estou vivendo um de forma bastante intensa”. Segundo Dilma, da mesma forma que lutou contra a ditadura militar, vai continuar lutando para aprofundar a democracia no Brasil.

A sessão de julgamento da presidente afastada iniciou por volta das 9h20 de hoje e deve durar até a próxima terça-feira (30). Para que ela seja afastada em definitivo da Presidência da República, são necessários dois terços dos votos, ou seja, no mínimo 54 dos 81 senadores. Neste caso, Dilma fica inelegível por oito anos e o vice-presidente Michel Temer, atual presidente interino, assume o cargo de presidente, para completar o mandato até 2018. Se o mínimo necessário para o impeachment não for alcançado, a presidenta retoma o mandato e o processo no Senado é arquivado. 

*Com a Agência Brasil

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