Campos pressionou Odebrecht para construir estaleiro em PE

Unidade seria para construir os navios sondas da Petrobras, um projeto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) considerado "coisa de maluco" por Marcelo Odebrecht

por Jorge Cosme qua, 12/04/2017 - 17:00
Fernando da Hora/LeiaJáImagens/Arquivo Para Marcelo Odebrecht, Campos tinha potencial político Fernando da Hora/LeiaJáImagens/Arquivo

O empresário Marcelo Odebrecht, em seu depoimento para o juiz Sérgio Moro, contou sofrer pressão para a participação da empresa no plano da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de construir as sondas da Petrobras em território brasileiro. Para Marcelo, o projeto, que buscava alavancar a indústria naval brasileira e gerar empregos, era “coisa de maluco”. 

Foi entre 2008 e 2009, segundo o empresário, que a Petrobras planejou o lançamento de licitação para o fretamento de 40 sondas coreanas. “A Dilma ficou chateada quando descobriu e ‘po, não tem nenhum sentido, quer dizer que a Petrobras vai fazer licitação e todas as sondas vão ser compradas no exterior?’. O governo aceitou em deixar 12 sondas serem licitadas, com o compromisso que outras 28 seriam depois licitadas para serem construídas no Brasil”, disse ele ao juiz.

Segundo o empresário, começou a haver uma pressão enorme, principalmente de Jacques Wagner, à época governador da Bahia, e Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, o último que, para Marcelo, tinha potencial. “Tinha uma pressão enorme [...] pra gente construir um estaleiro na Bahia e em Pernambuco, pra fazer as sondas e participar, e a gente querendo cair fora”, recorda. 

O depoente também lembrou ter levado uma “bronca” de Dilma Rousseff. “Ela me deu uma bronca porque o Lula foi visitar Suape e Eduardo Campos comentou com ele que a Odebrecht estaria indo pra lá e ele falou ‘po, você quer tudo, deixa o estaleiro com eles lá, pra fazer na Bahia”. 

Para Odebrecht, a empresa possuía interesse em participar do fretamento das sondas estrangeiras, mas não da produção no Brasil. “Quase todas as sondas do mundo eram feitas na Coreia, talvez algumas poucas foram feitas em Cingapura e o Brasil queria inventar de construir sondas aqui. Inclusive, com conteúdo nacional absurdo, que era uma briga que eu tinha, porque para você ter uma ideia, a sonda feita na Coreia, que construiu quase todas as sondas do mundo, a informação que eu tive é que 35% do conteúdo é coreano. E o Brasil queria construir uma sonda com 60% de conteúdo brasileiro”, destacou. Foi criado o modelo da Sete Brasil, que o depoente disse que nunca entendeu e que, em conversas com acionistas da Sete Brasil, eles diziam que a conta não fechava.

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