“Somos muito bons para encarcerar os pobres”

A declaração é de um dos principais nomes da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), Carlos Fernando, que afirmou que o Brasil se depara com essa realidade

por Taciana Carvalho sab, 13/05/2017 - 12:53
Brenda Alcântara/LeiaJáImagens O procurador também afirmou que o poder político do Brasil se baseia em dinheiro Brenda Alcântara/LeiaJáImagens

Um dos integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, declarou que é necessário melhorar o ambiente jurídico onde se tramita ações contra os “poderosos”. Ele participou, nessa sexta-feira (12), do I Congresso Internacional de Direito Penal e Processo Penal promovido pela UNINASSAU.

Carlos Fernando chegou a dizer que criminoso poderoso nunca é punido. “É preciso melhorar o ambiente jurídico onde se tramita ações contra poderosos porque nós somos muito bons para encarcerar os pobres. Está aí as nossas prisões demonstrando isso. Entretanto, quantos desses estão encarcerados hoje são poderosos? Quantas dessas ações contra poderosos foram julgados? Quantas foram executadas e essa pessoa foi para a penitenciária?”, indagou. 

Ele também afirmou que o poder político do Brasil se baseia em dinheiro. “Nos deparamos com essa realidade. O poder político do Brasil se baseia em dinheiro. Nossas eleições são caras demais. Nosso sistema político é pulverizado em dezenas de partidos que não tem nenhuma outra função se não fazer dinheiro. Fazer tempo na televisão, fazer coligações e vendê-las e [isso] custa caro”, disparou. 

O procurador disse que apesar da Lava Jato ser um sucesso, “não é uma investigação simples de corrupção” e que é preciso buscar algo além da Lava Jato. “Doações oficiais são insuficientes. Então, todos, todos, todos, não há exceção se socorre a métodos ilegais. Um ou outro talvez estenda sua própria fortuna para tentar se eleger, mas a regra o dinheiro vem de algum doador legal ou ilegal e alguma coisa quer em troca ou alguma coisa havia prometido. Vimos isso na Petrobras. Exatamente isso que descobrimos. Essa é a nossa realidade e ela hoje faz pensar que nós temos que buscar alguma coisa além da Lava Jato”.  

“Nós precisamos de um país mais justo, de uma Justiça mais célere e também reformar o sistema político, diminuir o preço da eleição e número de partidos. Talvez, aí, nós possamos ter um ambiente melhor. As próximas eleições vão ser baratas porque todos estão com medo, mas daqui a quatro anos, se nada mudar tudo voltará a ser exatamente como antes porque a necessidade vai fazer com que inventem novos meios de corromper aos agentes públicos”, alertou, acrescentando.

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