Marcelo: "Felipe foi agredido por um presidente ditador"

No Cendhec, irmão de Fernando Santa Cruz lembra do desaparecimento do militante, do sofrimento da família e rechaça comentário de Bolsonaro

ter, 30/07/2019 - 15:46
Pedro Bezerra Souza/LeiaJáImagens Pedro Bezerra Souza/LeiaJáImagens

O Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec), reuniu na tarde desta terça-feira (30) representantes de entidades de direitos humanos de Pernambuco e de movimentos sociais para um pronunciamento a respeito das afirmações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.

Nesta segunda-feira (29), Bolsonaro disse que, caso Felipe quisesse saber do desaparecimento do seu pai, Fernando Santa Cruz, na época da ditadora militar, ele o contaria.

Na ocasião, o irmão de Fernando Santa Cruz e vice-presidente da comissão de direitos humanos do Cendhec, Marcelo Santa Cruz, esteve presente para mostrar seu posicionamento diante do que foi dito por Bolsonaro.

“Fernando tinha vida legal, não estava clandestino em lugar algum. Marcou presença no trabalho até um dia antes do seu desaparecimento. A nossa família sempre foi marcada pela repressão militar. E hoje Felipe Santa Cruz foi agredido por um presidente ditador”, comentou Marcelo Santa Cruz.

De acordo com Marcelo, documentos mostram que seu irmão e sua família estavam sendo monitorados já há meses antes do seu desaparecimento.

“Depois do seu desaparecimento, nunca obtivemos uma informação precisa sobre o desaparecimento de Fernando. As primeiras informações começaram a surgir depois da instalação da Comissão da Verdade”, lembrou Marcelo.

Marcelo Santa Cruz também rechaçou no que foi dito por Bolsonaro. “O que o presidente disse é de uma crueldade sem limites, por isso teve essa repercussão nacional e internacional. Vamos entregar atestados de óbitos provando que a morte de Fernando não foi por causas naturais, mas sim pela repressão militar. A certidão já foi emitida e vai ser entregue em breve. Vamos entregar em eventos em locais como Recife, Rio de Janeiro e Brasília”, afirmou.

“Essa declaração de Bolsonaro pra nossa família é muito grave. Acho que quando ele fez essa agressão e tentou dirigir a Felipe, foi como uma forma de tentar desestabilizar ele, que tem incomodado muito o governo federal. Felipe tem questionado muito a reforma da previdência, tem questionado a causa indígena, a causa LGBT. Tudo isso incomoda o presidente.

Essa agressão direta a Felipe tem por trás muitas questões sérias. Bolsonaro está desrespeitando de forma cruel o nosso direito à memória dos nossos mortos. É como se Fernando tivesse sendo morto mais uma vez. Apesar de fazer muito tempo, a questão do desaparecido é muito forte porque nós não encerramos um ciclo. Não vimos o corpo. Nos não choramos o corpo do meu irmão”.

Figuras do meio político pernambucano também compareceram ao encontro. O deputado estadual e ex-prefeito do Recife, João Paulo (PCdoB); o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB); a vó-deputada do mandato coletivo Juntas, Jo Cavalcanti (PSOL); e a candidata ao governo de Pernambuco, Dani Portela (PSOL), estiveram presentes no auditório do Cendhec.

 

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