Quem é Osmar Terra, possível substituto de Mandetta

Nesta segunda (6), mesmo dia em que o jornal O Globo divulgou a possível exoneração do ministro da saúde, Bolsonaro almoçou com Terra, contrário ao isolamento social e crítico da Fiocruz

seg, 06/04/2020 - 17:20
Marcelo Camargo/Agência Brasil "Não confio na Fiocruz", afirmou Terra Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após a intensificação das rusgas entre o presidente Jair Bolsonaro com o próprio ministro da Saúde, Luiz Mandetta, o jornal O Globo publicou que Mandetta deve ser exonerado ainda nesta segunda (6). Quando a notícia foi publicada, o presidente já havia se reunido com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), cotado para assumir a pasta. Mas quem é Osmar Terra? Médico e contrário ao isolamento social, o deputado vem fazendo diversas críticas à estratégia preventiva adotada em todo mundo, o que agrada Bolsonaro.

Ex-prefeito de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, Terra já foi ministro em duas ocasiões. Primeiro, assumiu a pasta de Desenvolvimento Social, no governo Temer. Depois, foi convidado pelo próprio Bolsonaro a assumir o Ministério da Cidadania, sendo substituído por Onyx Lorenzoni. À época, interlocutores palacianos haviam repercutido o desempenho ruim do gaúcho diante da pasta: a fila do Bolsa Família, por exemplo, chegou a 1 milhão de pessoas depois de maio, quando estava zerada.

Na verdade, antes da exoneração, especulava-se que Terra poderia deixar o Ministério da Cidadania devido às acusações de que a pasta havia contratado uma empresa de informática que, segundo a Polícia Federal, foi usada para desviar R$ 50 milhões dos cofres públicos entre 2016 e 2018. Outro mal-estar, de cunho pessoal, pode ter sido determinante para o rompimento entre Terra e Bolsonaro: correram notícias de que o então ministro manteria uma suposta relação extraconjugal com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Negacionismo?

Terra é visto ainda, por setores mais progressistas, como um negacionista da ciência. “A ideia de fazer quarentena para reduzir a velocidade e ‘achatar’ a curva de aumento de casos,não funcionou em nenhum país do mundo nesta epidemia!  Estão  submetendo a população a enormes sacrifícios por uma teoria sem resultados práticos!”, alardeou o deputado em seu Twitter, em que divide a foto de perfil com o presidente Bolsonaro.

A rede social de Terra, aliás, tornou-se um repositório de questionamentos à política de isolamento social e de contraponto ao trabalho de Mandetta. Também lá, o deputado rasga elogios ao presidente: “Está na hora dos governadores ouvirem o Presidente e acertarem com ele  o fim dessa quarentena sem resultados”, postou em 4 de abril. O deputado, que chama a quarentena adotada pelo país de “radical” e “inócua”, também fez críticas à Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual disse estar “colocando o corpo fora” do isolamento horizontal.

Este não foi seu primeiro atrito com a comunidade científica. Em 2019, Terra atacou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e disse que não via “validade científica” em um estudo sobre drogas desenvolvido por três anos pela instituição, com aporte de 500 pesquisadores e 16 mil entrevistas. “Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz. Se tu falares para as mães desses meninos drogados pelo Brasil que a Fiocruz diz que não tem uma epidemia de drogas, elas vão dar risada. É óbvio para a população que tem uma epidemia de drogas nas ruas. Eu andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada. Temos que nos basear em evidências”, afirmou, sem apresentar tais “evidências”.

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