Lula diz que Bolsonaro despertou orgulho nos fascistas
O ex-presidente luta por direitos políticos para se candidatar e advertiu: 'prepare-se que o PT será responsável pela retomada do governo em 2022'
Em entrevista exclusiva ao El País, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abordou questões polêmicas sobre a atual gestão, atacou opositores e criticou o avanço da extrema direita na política internacional. Nessa quarta-feira (7), o petista chamou o ministro da economia, Paulo Guedes, de 'biruta de aeroporto' e disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) legitimou o orgulho do fascismo no Brasil.
"Bolsonaro é um cara que fez uma coisa para o Brasil: dar cidadania à extrema direita brasileira [...] Você tinha uma sociedade que vivia com vergonha de ser extrema direita e fascista. E ela agora tem orgulho", disparou o líder da esquerda no país.
Diante da crise na economia que recai sobre antigas gestões, Lula ressaltou o sucesso do Bolsa Família e disse que não arrepende-se por não ter constitucionalizado o programa, que está na mira de Paulo Guedes e pode ser rebatizado como Renda Cidadã, mediante alterações. "É só assistir a qualquer entrevista do ministro da Economia para perceber que ele parece uma biruta de aeroporto... esse Governo atual não passa confiança", analisou.
Além de desaprovar as ações de Guedes, Lula classificou o próprio presidente como 'lacaio' e, embora garanta que não guarda mágoas do tempo na prisão - de abril de 2018 a novembro de 2019 -, apontou que o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol é um "formador de quadrilha", que tentou roubar dinheiro da Petrobrás.
Estimulado pela 'sede de Justiça', o ex-presidente se diz inocente das sentenças aplicadas pelo ex-juiz Sergio Moro, que posteriormente assumiria o Ministério da Justiça e Segurança Pública. "Moro, que era uma espécie de deus de barro, quebrou, e já está querendo ir embora para os Estados Unidos para dar aula. Para não ter que ficar explicando as mentiras que ele contou aqui. Quero recuperar meus direitos políticos porque eu já provei a minha inocência. Quero agora que eles provem a culpabilidade de quem me acusou... Não tenho essa preocupação de voltar a ser presidente. Eu sou inocente, e quero provar que o que fizeram comigo foi uma senhora canalhice", avaliou.
Embora inelegível, ele garantiu que o PT vai reconquistar o prestígio dos eleitores e reverter a perda de espaço no cenário político. "A gente vai voltar a ficar forte e prepare-se que o PT será responsável pela retomada do governo em 2022", cravou. O petista ainda pontuou sobre a polarização do eleitorado e comentou que "na política, quando você não tem uma coisa boa para apresentar, apresenta um inimigo. E às vezes vira a razão para você fazer qualquer absurdo".
Ao condenar as diretrizes da Reforma Trabalhista e do processo de 'vínculo' por aplicativo imposto aos brasileiros que buscam emprego, Lula foi enfático, "estamos tirando o sonho das pessoas e dizendo que só vai sobreviver quem puder sobreviver, e dane-se o resto [...] nós evoluímos nesse país para garantir a cidadania, e essa gente está tirando isso. Essa gente acha que índio, água, floresta não têm que ser protegidos. O Estado só está existindo para garantir a rentabilidade do sistema financeiro".
Na visão do ex-presidente, a ascensão da extrema direita e da negação política na conjuntura internacional deve ser contida. "Precisamos recuperar o humanismo que existia dentro de nós, voltar a ter coração, solidariedade e compromisso com a verdade", complementou.