"Daltônico": Bolsonaro 'esquece' racismo e ataca movimento

Para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, o presidente considerou que todo o brasileiro sofre pelas mesmas situações e minimizou o preconceito racial no país

por Victor Gouveia sab, 21/11/2020 - 09:51
Reprodução/Flickr/Palácio do Planalto Em 2018, Hélio foi apadrinhado por Bolsonaro e tornou-se o deputado federal mais votado na eleição do Rio de Janeiro Reprodução/Flickr/Palácio do Planalto

Em uma série de publicações feitas no fim dessa sexta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou o preconceito racial no Brasil e tentou equiparar o sofrimento entre as raças que compõem o povo brasileiro. Um dia antes, um homem negro foi espancado até a morte por seguranças de uma loja do Carrefour, no Rio Grande do Sul.

Nos últimos minutos do Dia Nacional da Consciência Negra, o presidente - que já deu declarações racistas e atacou quilombolas - mostrou que, além de não saber sobre a disparidade social sofrida pelo negro brasileiro, não detém conhecimento sobre o Daltonismo, distúrbio que interfere na percepção das cores primárias, nem sempre em todas, e atinge cerca de oito mil brasileiros. "Sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras", escreveu.

Mesmo diante de repetidos casos envolvendo racismo estrutural no país, que geralmente acabam com negros mortos ou amontoados em presídio, ele indica que a violência é vivenciada igualmente no Brasil. "Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado", comparou.

Na visão do presidente, a "luta por igualdade" e a "justiça social" são métodos "mascarados" para dividir a população, em troca de poder. "Existem diversos interesses para que se criem tensões entre nosso próprio povo [...] e há quem se beneficie politicamente", acusa.

No entendimento de Bolsonaro, o lugar da luta por representatividade e avanços na pauta antirracista, por meio de manifestaçõesé no lixo. "Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história. Quem prega isso, está no lugar errado. Seu lugar é no lixo!", afirmou.

Em uma postagem que devia exaltar o negro e criticar os impactos que o preconceito gera aos brasileiros, Bolsonaro optou em distanciar o holofote da questão racial. "Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrução moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo", complementou.



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