Lula prepara aliança com quem defendeu o impeachment

O ex-presidente Lula (PT) afirma que se for sentar apenas com quem não votou a favor do impedimento, sentará apenas com 10% da população

qui, 03/03/2022 - 19:00
Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr Lula faz alianças com quem defendeu o impedimento de Dilma Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Para derrotar o presidente Bolsonaro (PL) nas eleições, o ex-presidente Lula (PT) vai adotar um discurso de unificação para justificar alianças com parlamentares que votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.

De acordo com o petista, não é possível discriminar quem votou a favor do impeachment de Dilma, seria “fazer política olhando para o retrovisor”. 

Segundo petistas, caso as alianças se restringissem apenas a quem se opôs ao impeachment, Lula afirmou que sentaria à mesa apenas com 10% da população brasileira. 

Lula defende publicamente em entrevistas que o momento é de união para reconstruir o País e que isso requer fazer alianças para além do campo da esquerda. Ele tem repetido que não deseja ser apenas candidato do PT ou da esquerda, mas sim de um movimento mais amplo. 

De acordo com relatos, o discurso do ex-presidente ecoa internamente na sigla. Um parlamentar petista afirmou, à Folha, que o partido conhece o papel que cada pessoa teve no processo do impeachment e isso não impede o diálogo com esses atores políticos. 

O núcleo próximo a Dilma é a principal fonte de crítica na sigla. Há o consenso de que ela terá de conviver com pessoas que viraram desafetos, mas que o partido seguirá defendendo a tese de que ela foi vítima de um golpe orquestrado pelo Congresso Nacional. 

A aliados, Lula já manifestou arrependimento por não ter disputado as eleições de 2014, mas insiste no apoio a Dilma. 

Mesmo com a defesa dela e do legado de seu governo, Lula tem indicado que ela não deve ocupar nenhum cargo na sua gestão caso ele vença a eleição. Em entrevista à CBN Vale do Paraíba neste ano, o ex-presidente disse que faltava a ela paciência. “Ela não tem a paciência que a política exige que a gente tenha para conversar e atender as pessoas mesmo quando você não gosta do que elas estão falando”, contou. 

Dilma x Marta Suplicy

Relatos contam que uma das principais figuras que Dilma guarda mágoas é a ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, que se afastou do PT no momento do impeachment e se filiou ao MDB, partido de Temer. 

Por sua vez, Suplicy conta com a gratidão de Lula pela sua atuação na campanha presidencial de 2002, e até chegou a ser cotada para vice na disputa em outubro. 

Marta tem se aproximado de líderes petistas e não só participou do jantar que reuniu Lula e Alckmin em São Paulo no fim do ano passado, como sentou à mesa com os dois. Em janeiro, ela organizou encontro com mulheres em sua casa para discussão de projetos. À coluna Mônica Bergamo, da Folha, ela minimizou não ter chamado Dilma e nem a ex-ministra Marina Silva (Rede). “Por que não a Maria, por que não a Joana? Tem tanta mulher importante nesse Brasil, tem tanta mulher em todas as áreas. Foi muito difícil selecionar. Comecei com as mais próximas, depois ampliei para outras e acabou faltando muita gente”, disse. 

Ainda não há definição se a ex-senadora deve ocupar algum cargo específico na campanha de Lula, apesar de o sentimento dela ser que poderia ajudar no processo por ter muito a contribuir. Atualmente, ela é secretária municipal de Relações Internacionais de São Paulo.

Renan Calheiros

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) é um dos interlocutores do ex-presidente e votou a favor do impeachment de Dilma. O senador se renunciou com Lula em janeiro e defendeu apoio do MDB nas eleições.

Apenas o PCdoB, dos partidos que costumam federar com o PT, teve deputados que não votaram a favor do impeachment. Já no PV, os seis deputados foram favoráveis, e Sarney Filho (MA) estava entre eles. 

Em maio do ano passado, o petista publicou uma foto ao lado do ex-presidente José Sarney (MDB), pai de Zequinha. Em agosto, o visitou no Maranhão, onde o PT deve compor uma aliança com MDB e PSDB. 

Danilo Cabral

Já no PSB, dos 32 parlamentares que formavam a bancada, 29 votaram a favor do impedimento; o deputado federal Danilo Cabral, anunciado como pré-candidato do PSB ao governo de Pernambuco foi um deles. A oficialização da candidatura ocorreu uma semana após o senador Humberto Costa (PT) se retirar da disputa.

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