Braga Netto é o vice sem ‘autonomia e independência’

A avaliação do cientista político sobre Braga Netto ser cotado como vice-presidente de Bolsonaro é de que ele prefere “um vice-presidente que seja ligado, dependente, reverente a sua autoridade”

por Alice Albuquerque sab, 26/03/2022 - 18:59
Alan Santos/PR O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa Braga Netto Alan Santos/PR

O ministro da Defesa, general Braga Netto, está sendo cotado a vice do presidente Bolsonaro (PL) para as eleições presidenciais de 2022. No entanto, mesmo o chefe do Executivo fazendo ‘mistério’ para divulgar quem vai compor a sua chapa, em entrevista à Jovem Pan, ele sinalizou que o seu vice fez escola militar, faz parte da sua cúpula de ministros e é nascido em Minas Gerais.

“Eu tenho que ter um vice que não tenha ambições de ocupar a minha cadeira. O que posso adiantar para vocês é que, por coincidência, o vice é de Minas Gerais, mas não quero adiantar o nome dele”, afirmou o presidente na entrevista. 

O atual vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), já desagradou o seu chefe por várias vezes ao se pronunciar sobre algum tema sem a sua 'autorização'. A última vez foi sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, que Mourão afirmou que o Brasil não apoiava a guerra e, claramente revoltado, Bolsonaro o desautorizou ao falar que “quem fala sobre esse assunto é o presidente, e o presidente se chama Jair Messias Bolsonaro”. 

Na entrevista com Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a pedido do presidente, sugeriu quem será o vice. O seu “palpite e desejo”, é de “um homem leal, competente, sério e, acima de tudo, muito discreto e eficiente”. “Então eu espero que seja ele o mineiro que o senhor está se referindo. Para termos novamente um bloco do presidente Bolsonaro, agora, se Deus quiser, com Braga Netto”, contou.

Por sua vez, o cientista político e professor da UFPE, Arthur Leandro, observou, sobre Braga Netto estar sendo cotado a vice, que Bolsonaro “se dá bem e tem uma boa relação com quem o obedece, e é basicamente isso o que ele procura”. “Bolsonaro não lidera, ele tem uma dificuldade de liderança nas Forças Armadas. Ele sabe mandar e gosta de mostrar quem manda, mas não lidera o processo de comandante supremo das forças armadas, tanto é que quando ele tem qualquer tipo de dificuldade e dissonância entre o que ele e uma outra pessoa fala, ainda que o que ele tenha falado seja em desacordo do que está sendo desmentido, ele inicia o processo de fritura”. 

“A fala de Ricardo Salles é emblemática, de alguém discreto e eficiente, o discreto significa não contestar a não se posicionar de maneira polêmica ou de modo a questionar a fala do presidente da República. A dificuldade é que as falas do presidente da República são erráticas, muitas vezes. Aparentemente, ele fala sem muita preparação e cautela mas, na verdade, ele fala refletindo o ponto de vista das pessoas que o circundam. Alguém indiscreto deixaria de mostrar ou evidenciar que, aquilo o que o presidente representa não é consenso sequer dentro da estrutura de um governo que ele vai liderar. A discrição que está sendo buscada significaria anuência com o jeito do presidente de governar e se posicionar diante das questões relevantes para o País”, salientou o cientista político. 

Arthur afirmou que o presidente da República “não quer um vice-presidente com autonomia e independência”. “Quando a fala dele entra em colisão com a do vice-presidente Mourão, que fala com independência na maior parte das vezes sobre os assuntos que lhe convém, por isso que o presidente em muitas situações o desmente. Como o general Braga Netto se mostra alinhado com a fala do presidente da República, talvez num nível semelhante, apesar do perfil mais discreto, com o que o general e ex-ministro da Saúde Pazuello demonstra, talvez por isso Bolsonaro prefira um vice-presidente que seja ligado, dependente, reverente a sua autoridade”. 

“Bolsonaro viveu todo o mandato sem conseguir construir alianças estáveis do ponto de vista da política. Um general não vai somar votos pra ele; ele quer alguém que ocupe o lugar com fidelidade à sua liderança, que não conteste o que ele fala e que não atrapalhe, o desminta, é basicamente por isso que Braga Netto é visto como ‘melhor’ que Mourão, do ponto de vista do presidente Bolsonaro e dos políticos mais próximos a ele que estão preocupados em construir a sua campanha de reeleição”, afirmou o especialista. 

Braga Netto

Walter Souza Braga Netto é nascido em 11 de março de 1957 em Belo Horizonte. Ele é general do Exército Brasileiro e já atuou como interventor federal no Estado do Rio de Janeiro. Também foi comandante militar do Leste e assumiu a chefia do Estado-Maior do Exército até chegar como ministro-chefe da Casa Civil, em 2020, ocupando o lugar de Onyx Lorenzoni. Sendo nomeado como ministro da Defesa em 2021 pelo presidente Bolsonaro.

Ele é um dos ministros mais próximos do presidente da República, sendo indiciado no relatório da CPI da Covid-19 pelo tempo que coordenou o Centro de Coordenações das Operações do Comitê de Crise da Covid-19. Tem ao menos 13 condecorações do Brasil, sendo a primeira delas uma medalha de Serviço Amazônico, uma de Israel e outra dos Estados Unidos pela Legião do Mérito. 

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