Joaquim Barbosa repudia fala da Defesa: 'alerta de golpe'

Em declaração recente, general Paulo Sérgio, ministro de Bolsonaro, disse que não está preocupado com ações de grupos antidemocráticos contra o sistema eleitoral

por Vitória Silva qui, 07/07/2022 - 11:24
Agência Brasil/Arquivo Joaquim Barbosa, ex-ministro da Suprema Corte Agência Brasil/Arquivo

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa criticou, na madrugada desta quinta-feira (7), as declarações do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, sobre a segurança das urnas eletrônicas e o interesse de grupos antidemocráticos em atacar o sistema eleitoral brasileiro. Em uma série de publicações no Twitter, Barbosa comentou a fala de Nogueira dada durante uma audiência na Câmara dos Deputados.

“Convido as pessoas com um mínimo de conhecimento da trágica história política brasileira a um exame sereno e lúcido da frase do ministro da Defesa, um general que faz parte do grupo de auxiliares do primeiro escalão do Presidente da República:  Disse o general Paulo Sergio Nogueira: 'As Forças Armadas estavam quietinhas em seu canto e foram convidadas pelo TSE…'. Ora, general, as Forças Armadas devem permanecer quietinhas em seu canto, pois não há espaço para elas na direção do processo eleitoral brasileiro”, disse Joaquim Barbosa.

Durante a audiência no Congresso, o ministro bolsonarista foi questionado pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB-RJ) se as equipes de inteligência das Forças Armadas monitoram "grupos armados ou pessoas mal-intencionadas [que possam tentar] interferir e tirar a paz no processo eleitoral".

À ocasião, a parlamentar usou como comparação a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, e demonstrou preocupação com o ato antidemocrático servir de referência ao mesmo tipo de grupo, mas no Brasil. O chefe da Defesa se mostrou despreocupado com a possibilidade de ataques antidemocráticos acontecerem.

"A preocupação que a senhora expõe no comentário em relação ao emprego da inteligência internamente e, não sei se foi essa a intenção, no que diz respeito ao processo eleitoral, eu nego e não existe esse tipo de preocupação [reedição da invasão do Capitólio no Brasil]."

Na audiência, o ministro disse que não tem questionado a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Ele afirmou, no entanto, que nenhum sistema está imune a falhas ou fraudes e que as urnas eletrônicas podem ser aperfeiçoadas.

"Nenhum sistema informatizado é totalmente inviolável, sempre haverá riscos, até mesmo em bancos que gastam milhões [de reais] em sistemas de segurança. Não se trata de qualquer dúvida em relação ao sistema eleitoral."

O questionamento em tom mais ameno não passou despercebido pelo ex-chefe da Suprema Corte: “Insistir nessa agenda de pressão desabrida e cínica sobre a Justiça Eleitoral, em clara atitude de vassalagem em relação a Bolsonaro, que é candidato à reeleição, é sinalizar ao mundo que o Brasil caminha paulatinamente rumo a um golpe de Estado. Pense nisso, general”, concluiu Joaquim Barbosa.

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