Desgaste do PSB entre eleitores de Lula dá força a Marília

Mesmo com o apoio declarado de Lula ao pré-candidato Danilo Cabral (PSB), os militantes do PT demonstraram desgaste com o PSB em evento de Lula no Recife, tendo a pré-candidata Marília Arraes (SD) como o nome da renovação para o estado

por Alice Albuquerque sab, 23/07/2022 - 17:44
Ricardo Stuckert Lula (PT) e Marília Arraes (SD) Ricardo Stuckert

A visita de Lula a Pernambuco, em destaque o evento com políticos, militantes e apoiadores no Classic Hall, em Olinda, na última quinta-feira (20), evidenciou o descontentamento de parte dos apoiadores do líder petista com relação à aliança com a Frente Popular em Pernambuco. Apesar de ter saído do Partido dos Trabalhadores e, por consequência, da Frente Popular, Marília Arraes (Solidariedade) ainda se mostrou presente na composição do grupo por ter sido aclamada por parte dos apoiadores presentes no evento, que também vaiaram os líderes da Frente no estado

O professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Arthur Leandro lembra que o PT e o PSB, “seja compondo a mesma chapa, seja governando juntos, seja disputando em chapas distintas e depois compondo uma aliança para governar”, vão fazer 22 anos no governo de Pernambuco com uma parcela política importante no Estado desde a eleição de João Paulo para prefeito do Recife, em 2000. “O PT e PSB estiveram em posições distintas, inclusive, disputaram no segundo turno, como foi o caso da eleição de 2020. Uma eleição bastante agressiva e disputada do ponto de vista da personalidade, é natural que parte da militância do PT tenha essa identificação com Marília e não com o PSB”. 

Ele pontua que o Partido Socialista Brasileiro se posicionou como um antagonista tradicional do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2020, no Recife. “O PSB falou de corrupção, que foi o discurso de João Campos, falou de uma suposta incapacidade administrativa do PT, houve um desgaste do ponto de vista da coesão daquela frente. Houve, inclusive, uma exigência do PT que a aliança governativa não se mantivesse, que o PT entregasse todos os cargos do governo do Estado”. 

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Na avaliação do especialista, o caminho para a composição do PT e PSB em Pernambuco ficou desgastado e prejudicado para as eleições de 2022. “Essa é uma eleição no qual as figuras com perfil de burocrata, técnico, o perfil que o PSB tem trazido para aliança, não tem muito espaço. A eleição deste ano tem um certo paralelismo entre a disputa local e a disputa nacional. Eu diria que a eleição está nacionalizada, as personalidades nacionais criam um tipo de polaridade deixando sem espaço para as questões locais para alguém que não tem um perfil de liderança carismática, como é o caso de Danilo Cabral. O PSB ficou numa situação que não tinha ninguém para apresentar para a liderança popular”, disse. 

De acordo com Arthur Leandro, Marília Arraes, que deixou o Partido dos Trabalhadores para ter seu espaço político e lançar sua candidatura, era o nome da renovação do PT em Pernambuco. “Existe um desgaste no campo da própria Frente Popular e boa parte da preferência da base do PT se identifica com Marília. Ela fez um investimento sério de longo prazo na sua campanha para governo do estado desde 2018, quando teve a legenda negada pelo PT em função da permanência ou manutenção de uma aliança PT-PSB, que foi definida naquele ano pelo senador Humberto Costa, que defendeu a sua candidatura numa chapa liderada pelo PSB." Para o professor, Humberto trabalhou intensamente para descredenciar as pretensões de Marília. 

Arthur Leandro vê Marília como favorita para a eleição deste ano, não apenas pelo que as pesquisas indicam, mas tamém devido ao perfil político deste pleito. “Aquele que seria o seu antagonista neste ano, considerando a nacionalização da disputa estadual, ainda não conseguiu se apresentar como concorrente à altura, que seria o ex-prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), o presidente estadual do partido de Bolsonaro. Só que Anderson não tem espaço a nível estadual que uma eleição para governador demanda, então ele vai ficar dependente de uma vinculação do seu nome ao nome de Bolsonaro para tentar amealhar os 30% de votos que Bolsonaro deve ter no estado, e se colocar como o segundo nome Bolsonarista”. 

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“O que a gente tem visto até agora é que esse segundo nome na disputa do segundo turno, que vamos ter, está indefinido entre três nomes preferenciais: Anderson, Raquel Lyra e Miguel Coelho. E Danilo Cabral vem como um 5º nome. Já tem mais de um mês que as pesquisas realizadas tiram Danilo do 4º lugar e o colocam para 5º. A presença de Lula no estado mostrou que a máquina partidária de militância da Frente Popular está mais próxima de Marília”, avalia. 

No evento de Lula no Recife, o pré-candidato Danilo Cabral (PSB) e o governador Paulo Câmara (PSB), além do prefeito João Campos (PSB), quase não conseguiram discursar em um coro de repúdio às gestões e ao PSB. Houve a tentativa, inclusive, de abafar o coro em repúdio aos políticos com aplausos fakes e uma maior incidência da orquestra durante as vaias. 

De acordo com Arthur Leandro, as vaias se deram, também, pela má avaliação do governo Paulo Câmara e pela crise agravada nos últimos anos em Pernambuco. “Nós fomos duramente afetados pela pandemia. A capacidade de investimento e de ações no sentido de recuperação da economia não aconteceram. Então, o governo de Paulo é mal avaliado. Ele é rejeitado por 70% da população, que o consideram ruim ou péssimo”.

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Na avaliação do professor, uma das maiores dificuldades atuais do PSB é não conseguir reproduzir o que foi feito na eleição de 2020 com João Campos. “E Danilo se apresenta como alguém muito parecido com Paulo. É difícil repetir o que aconteceu entre João Campos em relação a Geraldo Julio, porque João foi o candidato de Geraldo e o PSB conseguiu esconder Geraldo na eleição de 2020. João é Eduardo, mas é difícil dizer que Danilo é Eduardo. Danilo é Paulo. O eleitor olha para Danilo e vê a continuidade do PSB. Essa é uma eleição que acontece após oito anos de governo de Paulo e remotamente, oito anos de governo de Eduardo. Então, são 16 anos de PSB. É uma eleição do cansaço. É difícil apresentar um partido como sendo capaz de entregar resultados e de reverter uma situação de crise”. 

“Não tem muito como reverter essa situação, até porque Lula também ganha com Marília. Sejamos pragmáticos, Lula cumpriu o seu papel na Frente Popular, mas ele não ganha muito mais com Danilo do que com Marília. Ele tem dois palanques, a verdade é essa e, por uma questão de apoio político, ele não pode pedir votos para Marília. Mas a relação de Lula com Marília é visível por todos”, afirmou.  

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