Covid: Físicos quantificam influência política na pandemia

O Estudo mostra que a correlação entre taxa de mortalidade e apoio político à atual gestão federal cresceu a medida que a campanha de desinformação foi desenvolvida

por Jameson Ramos sab, 05/11/2022 - 18:20
José Dias/PR Presidente Jair Bolsonaro José Dias/PR

A pandemia de Covid-19 foi severamente agravada no Brasil devido sua politização. No entanto, o impacto de forças políticas difusas na fatalidade de uma epidemia é notoriamente difícil de quantificar. Pesquisadores dos departamentos de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) apresentaram um método para medir esse efeito no caso brasileiro, baseado na distribuição não homogênea em todo o território nacional do apoio político ao governo federal.

Esse apoio político é quantificado pelas taxas de votação na última eleição geral no Brasil. Esses dados estão correlacionados com as taxas de letalidade da covid-19 em cada estado brasileiro à medida que o número de mortes cresce ao longo do tempo. O estudo mostra que a correlação entre taxa de mortalidade e apoio político à atual gestão federal cresceu à medida que a campanha de desinformação foi desenvolvida. Isso levou à dominância de um fator político de impacto na pandemia brasileira no decorrer de 2021. Os resultados mostram que, uma vez estabelecida essa dominância, a correlação permite estimar o número total de mortes por influência política.

A análise cruzada dos dados de fatalidade e votos correlacionados no tempo, estabelece a dominância de uma correlação e permite estimar o número total de óbitos por influência política. Os pesquisadores apontam 350 mil óbitos até o final de 2021 durante período de forte influência da narrativa política. Isto correspondendo a 57% do total de óbitos no Brasil naquele período. Estados como Roraima, Rondônia e Mato Grosso mostram níveis altos de votação no atual presidente e taxa alta de fatalidade. Já Piauí, Bahia, Maranhão, Paraíba e Ceará, todos no Nordeste, possuem mais baixa votação no candidato governista e menor taxa de fatalidade.

“Nossa análise mostra que uma parcela significativa das forças políticas no Brasil optou por ignorar os métodos científicos de mitigação e um desenvolvimento acelerado se confirmou com uma mistura de ilusões e tratamentos não testados. As consequências foram terríveis, resultando diretamente em um excesso de mortes entre as populações que compartilhavam bases de ideologia política semelhante”, complementa o professor José Dias do Nascimento, do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da UFRN e coautor do estudo.

A quantificação da correlação estatística entre votos nas eleições presidenciais de 2018 e mortes causadas por Covid-19 aponta, também, para direções de futuras pesquisas sobre os mecanismos causais da relação de intervenção política em campanhas de saúde pública. A análise mostra que o papel das visões políticas podem trazer agravamento e crises na gestão da saúde pública.

*Da assessoria

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