Delegados da PF lançam desagravo à Érika Marena
"A Polícia Federal conquistou status de instituição de Estado, não obedecendo, nem trabalhando em prol dos desejos do governo da ocasião", ressaltam
Delegados de Polícia Federal lançaram nesta terça-feira, 11, um desagravo à Érika Marena, delegada que liderou a Operação Ouvidos Moucos - investigação sobre desvios em repasses do programa Universidade Aberta do Brasil para a Universidade Federal de Santa Catarina. "A Polícia Federal conquistou status de instituição de Estado, não obedecendo, nem trabalhando em prol dos desejos do governo da ocasião", ressaltam.
O nome de Érika voltou aos holofotes após o Tribunal de Contas da União arquivar uma representação sobre fatos ligados a recursos enviados para a federal catarinense. Em razão da decisão, o ministro da Justiça Flávio Dino anunciou 'providências cabíveis em face de possíveis abusos e irregularidades na conduta de agentes públicos federais'.
Em sua manifestação, Dino fez referência ao ex-reitor da UFSC Luis Carlos Cancellier Olivo. Marena fez o pedido de prisão do então reitor da Federal de Santa Catarina. Semanas após a abertura da Ouvidos Moucos, em 2017, ele se suicidou. A morte lançou suspeitas sobre a atuação da Polícia Federal no caso.
O pronunciamento do ministro da Justiça sobre o caso Cancellier não cita o nome de Marena. A nota pública da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal também não a menciona nominalmente, mas a ela se refere.
O aceno dos delegados é claro. Eles lembram dos 'mecanismos de controle e de cobrança' sobre a atuação dos agentes da PF, mas classificam como 'inaceitável o estabelecimento de quaisquer rótulos sobre os profissionais, independentemente da ocupação de funções e cargos públicos em governos anteriores ou da coordenação de grandes operações policiais'.
"A atividade policial, em especial a de Delegado de Polícia Federal, tem no seu cerne uma imensa responsabilidade, consubstanciada na condução e presidência do Inquérito Policial, sendo suas decisões sempre embasadas no arcabouço probatório carreado aos autos", sustentam.
Além de ter papel central na Ouvidos Moucos, Érika Marena também atuou desde o início da Operação Lava Jato. Em 2018, quando o ex-juiz Sérgio Moro foi anunciado ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, a delegada integrou a equipe de transição ministerial.
A decisão do TCU que gerou reação em cadeia foi dada pela Primeira Turma no bojo de um processo autuado em julho de 2019. A Universidade foi comunicada sobre a decisão na sexta-feira, 7. O caso tramitou sob relatoria do ministro Walton Alencar Rodrigues.
A Corte de Contas arquivou uma representação que tratava de supostas irregularidades em contratos de locação de veículos com recursos do Universidade Aberta do Brasil enviados para a Universidade Federal de Santa Catarina.
O programa foi instituído em 2006 pelo governo federal para capacitar professores da rede pública de ensino em regiões afastadas e carentes do interior do País. Onze anos depois, supostos desvios em cursos de Educação a Distância oferecidos pelo programa na UFSC entraram na mira da Operação Ouvidos Moucos.