A dança das cadeiras na reforma ministerial de Lula
Pastas do PSB e PT correm risco, mas futuro ainda é incerto
O tabuleiro de xadrez montado pelo presidente Lula (PT), composto por seus 37 ministros, pode ser modificado em breve. Desde a semana passada, quando o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha anunciou a futura colocação dos deputados federais Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) à frente de dois ministérios, o jogo das cadeiras vem sendo especulado de todos os lados. Lula, por sua vez, ainda não tomou nenhuma decisão sobre quem será retirado do cargo para a entrada dos parlamentares.
Ao LeiaJá, o cientista político Rodolfo Marques explicou que a movimentação faz parte do jogo político do presidente, que busca sempre fortalecer sua estrutura de governo. “O Silvio Costa Filho foi uma liderança importante, por exemplo, no enfrentamento do impeachment de Dilma Rousseff, que acabou acontecendo em 2016, mas ele foi uma liderança importante. Fufuca é uma liderança importante também no cenário do centrão, então Lula está tentando exatamente fortalecer a sua base dentro do parlamento, a partir desses acenos feitos no contexto dos ministérios”, afirmou Marques.
Segundo Marques, esses acenos também representam um movimento estratégico, uma vez que Lula busca ter uma aprovação maior no Congresso Nacional, levando em consideração, por exemplo, uma possibilidade de facilitar a comunicação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). “Não vai compor a base do Lula, mas esse movimento nos ministérios pode gerar pelo menos alguns votos positivos para as demandas que vierem do Planalto para o parlamento”, comentou.
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Movimento natural
As reformas ministeriais, certamente, não são novidade no governo atual, sendo de costume, para pôr em prática as jogadas políticas, e permitir que projetos e propostas sejam aprovados com maior facilidade. Rodolfo Marques afirma que, para Lula, isso não é um movimento difícil de realizar, mas também que esse não é uma jogada tão grande quanto estão comentando.
“Eu nem chamaria exatamente de uma reforma ministerial. Mas mesmo que fosse, de repente, se tivéssemos uma mobilização de seis, sete ou até oito pastas no primeiro ano. Eu acho absolutamente natural dentro dessa correlação de força. A Esplanada tem 37 ministérios, no governo Lula. Então muitas vezes várias forças políticas precisam ser contempladas pra que haja uma base dentro da chamada coalisão governista”, explanou o docente.
PT e PSB na corda bamba
Dentre as diversas movimentações especuladas, as opções que envolvem mexer nas pastas cedidas ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), são as mais incertas. O LeiaJá procurou ouvir o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que informou, por meio de sua assessoria, que não pretende se pronunciar novamente sem conversar com Lula antes. Em suas últimas entrevistas à imprensa, Siqueira declarou que não concorda com a ideia de abrir espaço para partidos de oposição em postos de grande poder no governo, mas que seguirá apoiando o presidente da República.
O PSB é o partido de três ministros: Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública; Marcio França, Portos e Aeroportos; e o vice-presidente Geraldo Alckmin, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Siqueira não vê necessidade em ter de abrir mão de uma dessas pastas para que o equilíbrio das forças políticas seja alcançado, e afirmou que Lula “teve a sorte” de ter os três nomes a seu dispor.
Já o PT, que também deverá se pronunciar apenas depois de se reunir com Lula, e tem mais espaço na Esplanada, poderá ser visto como um apaziguador de conflitos, mesmo que por obrigação. “É claro que o PT tem a cota maior e reivindica sempre mais espaço. Só que é necessário agradar diferentes núcleos políticos pra você ter mais tranquilidade para governar e para ter maioria parlamentar”, finalizou Marques.