Livox: app traz liberdade e voz para quem não pode falar

Adaptável ao tipo de deficiência do usuário, no Livox é possível aumentar ou diminuir a quantidade de informações exibidas na tela, facilitando seu uso

por Nathália Guimarães ter, 12/11/2013 - 08:00
Carlos Edmar Pereira/Acervo Pessoal Pequena Clara já pode compartilhar suas vontades e anseios graças ao aplicativo. Na foto, pai, filha e mãe compartilham a alegria de poderem se comunicar Carlos Edmar Pereira/Acervo Pessoal

O que poderia ser um problema na vida de Carlos Edmar Pereira acabou virando uma solução para milhares de pessoas. Ele, que é pai da Clara, de seis anos, portadora de paralisia cerebral, quebrou o obstáculo que impedia a pequena de se comunicar através de um aplicativo direcionado a tablets Android totalmente em português, o Livox. O nome o software é uma mistura dos termos “liberdade” e “voz”. E miscelânea destas palavras pode resumir o resultado da proatividade do analista de sistemas pernambucano: agora a pequena Clara vai à escola, sabe ler e escrever.

E a história do Livox coincide com o desenvolvimento da pequena Clara. Tudo começou nas mãos do analista de sistemas que criou uma aplicação simples que ajudava a filha a responder questões com um “sim” ou não” às perguntas feitas pela família. Aos poucos, o software foi ganhando mais funcionabilidades e a colaboração de psicólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos. Neste meio tempo, sua filha foi se comunicando através do app, mostrando aos pais suas preferências, anseios e, também graças ao Livox, foi sendo alfabetizada. Segundo Carlos Pereira, este é o seu maior presente. 

“Hoje sabemos o que se passa na cabeça dela, e quais vídeos e músicas ela gosta de assistir e ouvir, por exemplo. Embora ela não possa pegar no lápis, temos noção de que ela sabe ler e escrever graças ao aplicativo. Ela o utiliza até mesmo na escola para a realização de provas, estudos e continua aprendendo como qualquer criança tem direito”, complementa o analista de sistemas.

E apesar dos bons frutos que a aplicação rende hoje, nem sempre foi fácil lidar com os problemas que uma deficiência pode trazer. Durante a concepção do Livox, Carlos esbarrou em obstáculos como os problemas motores das pessoas com algum tipo de síndrome. “Nem sempre minha filha tocava no tablet com apenas uma mão ou de maneira ordenada, por isso, desenvolvi um algoritmo para tornar o teclado inteligente. Assim, ele guarda informações de uso e se adapta ao usuário”, explica.

Ainda de acordo com Carlos Pereira, o Livox é aberto a sugestões e as melhores dicas já implementadas são de origem dos próprios pais de crianças deficientes. “Eles sabem o que seus filhos precisam, por isso dão sugestões que realmente funcionam no cotidiano destas crianças que são altamente inteligentes, mas estão presas a um corpo que não as obedece”, ressalta.

Hoje, dois anos e meio depois da ideia nascer na cabeça de um pai que não se conformou, a aplicação é utilizada por mais de duas mil pessoas e já recebeu o prêmio de melhor aplicativo de inclusão e empoderamento para pessoa com deficiência na etapa brasileira do World Summit Award (WSA), premiação apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Sobre os próximos passos do projeto, o criador é categórico. “Quero que ele se torne uma política pública. Assim como o governo cede uma cadeira de rodas a uma pessoa que precisa, deve também disponibilizar uma maneira dela se comunicar, já que é um direito de todos”, prevê Carlos Pereira.

Personalizável – Adaptável ao tipo de deficiência do usuário, no Livox é possível aumentar ou diminuir a quantidade de informações exibidas na tela, facilitando seu uso. Além disso, é possível adicionar os itens mais clicados por quem usa em uma lista de favoritos e escolher entre cerca de três mil imagens da biblioteca da aplicação ou usar fotos próprias para facilitar a comunicação.

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