Maioria dos pais dará eletrônicos neste Dia das Crianças
Uso em excesso destes aparelhos chama a atenção de psicólogos e já é considerado transtorno clínico
Boneca, carrinho ou bicicleta? Smartphone. Já se foi o tempo em que a principal opção de presente para o Dia das Crianças, comemorado na próxima segunda-feira (12), eram brinquedos. Hoje, celulares, tablets e videogames fazem a cabeça dos pequenos. Uma pesquisa do Mercado Livre realizada no último mês de setembro confirma a tendência. A maioria dos pais (51%) planeja comprar dispositivos eletrônicos para presentear seus filhos na data comemorativa.
O analista de sistemas Robson Carvalho, de 32 anos, pretende agradar seu filho, Miguel, de 7 anos, com um smartphone. “É difícil evitar que ele tenha acesso ao celular quando boa parte dos coleguinhas na escola tem acesso. Pretendo comprar um modelo mais barato e só deixar ele usar quando eu estiver por perto”, explica Robson, que planeja gastar até R$ 300 reais no presente.
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O uso em excesso destes aparelhos, no entanto, chama a atenção de psicólogos e já é considerado transtorno clínico em várias partes do mundo. A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda aos pais não expor seus filhos a nenhuma mídia eletrônica antes dos dois anos de idade. Segundo a entidade, crianças aprendem mais interagindo com pessoas, não com telas.
A psicóloga Maria Mattos, que pesquisa sobre o vício pela internet e equipamentos eletrônicos, concorda. “Ignorar as novas tecnologias não é uma opção. No entanto, é necessário estabelecer uma disciplina para o uso deles. Deixar uma criança brincando com um aparelho sem a supervisão dos pais está fora de cogitação”, explica.
Ela indica o que chama de fórmula ideal. “O diálogo é sempre a melhor saída. Estabeleça horários de uso. Entenda o que a criança deseja e chegue a um acordo amigável. Os pais também devem estimular a interação social dos filhos, evitando que sua rotina esteja sempre aliada a tela de um eletrônico”, complementa.
A supervisão constante deverá evitar a dependência, de acordo com a especialista. Hoje, cerca de 280 milhões de pessoas em todo o mundo são compulsivas por dispositivos móveis, segundo estudo divulgado pela consultoria Flurry em julho. No Brasil, o tema ainda é pouco explorado, mas existem clínicas especializadas em dependência digital nos Estados Unidos, Itália e Reino Unido.
“Alguns dos sintomas da dependência digital abusiva são ansiedade, depressão, medo de perder o controle, desprezo pelas relações na vida real, mudanças repentinas de humor, percepção alterada do tempo e perda de sono”, pontua a pesquisadora e diretora do Instituto Delete, Anna Lucia King.
Ainda que os eletrônicos tenham um efeito calmante nos pequenos, a orientação é que crianças ou adolescentes não gastem mais do que duas horas por dia com este tipo de mídia. “O uso excessivo pode causar problemas no desempenho escolar, bem como lesões por esforços repetitivos”, complementa a especialista. As consequências físicas incluem dores nos dedos, costas e pulso.