Decisão do Facebook faz temer auge da desinformação
A partir desta quinta-feira (18), os australianos não podem postar links para artigos de notícias, ou ver as páginas do Facebook de veículos de imprensa
A decisão do Facebook de bloquear o conteúdo informativo na Austrália levanta temores de que a desinformação e teorias da conspiração se amparem na rede social no país, na ausência de fontes confiáveis.
A partir desta quinta-feira (18), os australianos não podem postar links para artigos de notícias, ou ver as páginas do Facebook de veículos de imprensa.
Paralelamente, as fontes de notícias australianas desapareceram da plataforma em todo mundo.
O gigante das redes sociais respondeu, assim, aos novos e rígidos regulamentos que o obrigarão a pagar, como o Google, pelas notícias que aparecem em suas plataformas.
Várias agências governamentais importantes, que emitem alertas de emergência sobre a covid-19, incêndios florestais, inundações e ciclones, foram inicialmente incluídas no apagão de notícias, antes que o Facebook começasse a restabelecê-las.
Outras páginas australianas no Facebook também ficaram em branco, incluindo as de instituições de caridade contra o câncer, ou sem-teto, bem como as de grandes empresas, ou mesmo satíricas.
No entanto, o bloqueio não afetou muitas páginas de desinformação e teorias da conspiração, embora frequentemente publiquem artigos sobre assuntos atuais.
Entre elas, estão várias páginas identificadas pela equipe de verificação de dados da AFP pelo compartilhamento de desinformação que circula entre dezenas de milhares de usuários.
"Ao restringir notícias independentes e produzidas por profissionais na Austrália, o Facebook está permitindo a promoção de teorias da conspiração, desinformação, notícias falsas e malucas", disse Marcus Strom, representante da Media, Entertainment and Arts Alliance.
"Este movimento irresponsável do Facebook vai encorajar a disseminação de notícias falsas, o que é especialmente perigoso durante a pandemia de covid e é uma traição ao seu público australiano", acrescentou.
Um porta-voz da rede social declarou que "o compromisso da empresa em combater a desinformação no Facebook não mudou".
"Estamos direcionando as pessoas para informações confiáveis sobre saúde e notificando-as sobre novas atualizações por meio de nosso Centro de Informações a Covid-19", de acordo com a empresa.
A AFP é uma das organizações que colabora com o programa de verificação de dados do Facebook.
A rede social paga para utilizar, na sua plataforma e no Instagram, as verificações efetuadas por cerca de 60 organizações, entre as quais se encontram meios de comunicação especializados e verificadores.
O blecaute de notícias no Facebook ocorre alguns dias antes da implementação da vacina anticovid na Austrália e preocupa o fato de que as mensagens oficiais sobre saúde estejam sendo abafadas pelas dos antivacinas.
"Eu diria ao Facebook para pensar melhor. Podem estar nisso pelo dinheiro, mas o restante de nós está nisso por segurança, proteção e responsabilidade", disse o ministro da Saúde, Greg Hunt.
O Facebook afirma que gera centenas de milhões de dólares em receitas para a mídia australiana por meio de cliques.
Antes dessa polêmica, a rede social já estava sob pressão por não fazer o suficiente para conter mensagens de desinformação e ódio.
No mês passado, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que a empresa estava tentando "baixar a temperatura" em sua plataforma, reduzindo conversas políticas e inflamatórias que há muito hospeda.
A rede social também decidiu banir grupos que compartilham afirmações não verificadas sobre a covid-19 e destacar conselhos de órgãos oficiais confiáveis, que permanecem acessíveis.
Mas, de acordo com a organização Reset Australia, que visa a combater as ameaças digitais à democracia, o apagão de notícias australiano revela "quão pouco a plataforma se preocupa em deter a desinformação".