Professor mostra exemplo de redação com tema do Enem

'A avaliação priorizou o candidato dinâmico, que lê sobre tudo', explicou Diogo Didier

por Paulo Uchôa dom, 04/11/2018 - 17:06
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens 'Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet' foi o tema da redação do Enem 2018 Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

Considerada a prova de maior peso no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação deste domingo (4) não foi de causar espanto para quem se dedicou em sala de aula. Divulgado às 12h48, o tema 'Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet' repercutiu fora dos portões dos locais de prova com as opiniões dos professores.

Para Diogo Didier, professor de redação, o tema não foi difícil. "É preciso perceber neste tema que o Enem está mudando. Logo, temáticas previsíveis e mal construídas não estão fazendo a cara da banca. O alunado que se agarrou à teoria dos spoilers também se prejudicou. Mais uma vez, a avaliação priorizou o candidato dinâmico, que lê sobre tudo", explicou Diogo, ao compartilhar na sua conta do Instagram uma forma de desenvolvimento da redação.

Confira a sugestão do professor Diogo Didier:

Tema: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet

George Orwell em sua obra 1984 alertava sobre uma sociedade vigiada pelo Estado, o qual usava desse controle para manipular as massas. Na atualidade, graças aos avanços científicos, a previsão de Orwell se concretizou. Isto porque, na internet a exposição de dados dos usuários tem propiciado o surgimento de diversas formas de manipulação, as quais no Brasil, devido ao desamparo educacional-virtual, desemboca na alienação populacional.

Essa lacuna na formação do usuário contrapõe-se à velocidade da rede. Como se sabe, o hipertexto é indomável nessa atmosfera, moldando os perfis dos internautas por meio daquilo que estes acessam. Por tal razão, outro fenômeno ligado ao controle de dados na internet tem ganhado destaque, a Big Data, bem como a necessidade das empresas telecomunicadoras de assegurar a privacidade dos conteúdos dos usuários. Porém, em plena redemocratização da tecnologia, os lucros sobrepõem-se a intimidade das pessoas, modelando seus comportamentos que resvalarão na sociedade. É o que tem ocorrido, por exemplo, com o crescimento do discurso de ódio e as Fake News.

Nesse sentido, a manipulação da conduta dos usuários conta, também, com a Nomofobia, termo usado para caracterizar a dependência em celular. Neles, conectados à rede, os internautas se tornam vulneráveis às investidas de grupos mal intencionados, que se aproveitam do comportamento dos usuários para persuadi-los sobre questões de ordem social. É o que Marcel Leonardi, autor do livro Tutela e Privacidade e Internet chama de Cultura dos Algorítimos. No Brasil, apesar do Marco Civil da Internet, falta uma legislação mais atuante na proteção de dados, assim como na investigação imediata de conteúdos ilícitos responsáveis por moldar a sociedade.

Portanto, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações deve atuar na proteção dos dados dos internautas por meio das empresas de telecomunicações nacionais assegurando o controle do que é acessado na rede. As Delegacias Virtuais precisam estar antenadas aos conteúdos manipulares da rede, sobretudo aqueles que moldam a opinião pública e punindo seus responsáveis. Assim, o alerta de Orwell ficará restrito a sua obra.

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