Com distribuição de feijoada, alunos da UPE pedem RU

Em frente à faculdade de enfermagem da instituição, nesta quinta-feira, os estudantes cobraram da governadora Raquel Lyra a construção do restaurante universitário

por Elaine Guimarães qui, 10/08/2023 - 15:05
Júlio Gomes/LeiaJá Alunos da UPE participam de ato simbólico pela construção de um restaurante universitário Júlio Gomes/LeiaJá

Com 10 campi e mais de 50 cursos de graduação, a Universidade de Pernambuco (UPE) não possui restaurante universitário (RU). A demanda é uma luta antiga dos estudantes da instituição, que é de responsabilidade do Governo de Pernambuco. Nesta quinta-feira (10), por volta das 12h, uma fila se formou em frente à Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora da Graças, da UPE, localizada no bairro de Santo Amaro, área central do Recife. Estudantes aguardavam a distribuição da feijoada, organizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE UPE).

O ato simbólico, que inicialmente cobraria R$ 1 pela refeição, foi uma maneira encontrada pelos alunos para reivindicar a construção do RU. Os discentes também aproveitaram para cobrar à governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), para que a universidade, assim como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE), tenha um local de oferta de refeições a preços populares.

Distribuição de feijoada na UPE. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Distribuição de feijoada na UPE. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

A cobrança não é novidade para a reitoria ou gestão estadual, que, em janeiro de 2023, durante cerimônia de posse da nova reitora da UPE, Profª Socorro Cavalcanti, prometeu a construção de RUs. À reportagem, João Mamede, Coordenador Geral do Diretório Central dos Estudantes da UPE (DCE UPE), ressalta que esse tipo de ato já é tradição dos movimentos estudantis no Estado.

“Na UPE existe o problema da insegurança alimentar dos estudantes. A gente decidiu fazer aqui na universidade porque a gente entende que o nosso programa de assistência estudantil está muito atrasado, não temos orçamento”. Segundo João Mamede, o quantitativo destinado à política de permanência dos alunos da universidade estadual é de R$ 2,4 milhões (moradia, alimentação, mobilidade, entre outras).

O coordenador geral do DCE UPE também salineta que a data para a realização do “feijoato” faz referência ao Dia do Estudante, que será comemorado na sexta-feira (11). “Esse campus que a gente está só tem curso integral, que as pessoas já têm dificuldades de permanecer, os alunos passam o dia toda aqui. Alguns trazem marmita, mas não tem onde armazenar ou esquentar. Então, a gente está chamando a atenção desse problema aqui na Universidade de Pernambuco”.

João Mamede (camisa preta) é Coordenador Geral do Diretório Central dos Estudantes da UPE (DCE UPE). Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

As discentes do curso de enfermagem e integrantes do Diretório Acadêmico (DA), Hisabele Maria e Isadora Soares, em entrevista ao LeiaJá, comentam que o ato é importante e que a fila que se formava em frente à faculdade deveria ser corriqueira, se a UPE tivesse um restaurante universitário. “A gente achou o ato muito interessante, porque é um movimento de luta e conquista. Hoje, deveria ser o que todo dia deveria acontecer. Todo dia, a gente deveria montar uma fila, com comida para todo mundo, com preços acessíveis e de qualidade”, expõe Hisabele.

“Esse momento é muito importante. De certa forma é algo divertido para a gente, mas é um movimento de protesto, para a gente chamar atenção para o que acontece aqui na UPE, que é a falta do RU. Ninguém estuda com fome, ninguém vive com fome. A gente passa o dia aqui dentro, a gente precisa comer, a gente precisa se sustentar e não é fácil. A gente nem está pedindo as três refeições, a gente só está pedindo um almoço”, pontua Isadora.

Hisabele (de óculos) e Isadora (camisa branca) são alunas do curso de enfermagem da UPE. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Mesmo com a Universidade de Pernambuco disponibilizando editais para auxílio moradia e alimentação, os universitários apontam que o quantitativo de contemplados ainda é baixo. "Na minha sala tem 54 pessoas. Só a minha turma acabaria com as vagas oferecidas pela UPE nesse edital", frisa Isadora. Nos atuais editais, lançados recentemente pela UPE, oferecem 150 vagas para estudantes veteranos (valor mensal de R$ 400) e 50 para discentes ingressantes em 2023.1, que é o caso da turma de Isadora, também no valor de R$ 400.

Cursando medicina, também em período integral, os estudantes Marlon Peixoto, que é natural de Aracajú, e Sabrine Menezes reforçam o discurso da maioria dos estudantes que aproveitaram a iniciativa do DCE. “Em Sergipe era esperado que ao entrar na universidade já teria um RU. Quando eu cheguei aqui na UPE, em uma cidade nova, pensei que também fosse ter [RU], até por ser um Estado maior, considerado mais desenvolvido por muita gente, mas, não, foi uma surpresa, uma surpresa negativa. Porque muitos dos meus amigos precisam, o nosso curso é integral. A gente batalhou para entrar aqui”, disse à reportagem

"Tem muita gente aqui que mora longe, precisa trazer comida, é um gasto muito grande. Uma faculdade do tamanho da UPE até hoje não tem um restaurante universitário é muito grande. O RU faria uma diferença muito grande, não só para quem estuda integral. A UPE disponibilizar, pelo menos o almoço, seria o mínimo", opinou Sabrine. 

Marlon e Sabrine estudam medicina na UPE. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

COMENTÁRIOS dos leitores