Intolerantes atribuem doença de Arlindo Cruz ao candomblé

Arlindo, que já começa a reagir aos tratamentos e já tem sedação reduzida, chegou a ter notícias falsas divulgadas na internet sobre sua morte

por Rebeca Ângelis qua, 22/03/2017 - 11:34
Reprodução/Facebook Nem mesmo o estado de saúde do cantor é poupado de mensagens de intolerância Reprodução/Facebook

Mesmo internado desde a sexta-feira (19), vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o cantor carioca Arlindo Cruz tem sido vítima de intolerância religiosa e notícias falsas. Ele, que sempre admitiu pertencer à religião do candomblé, também tem sido alvo de críticas de alguns usuários nas redes sociais, que muitas vezes julgam que seu estado de saúde se deve ao cantor ter escolhido seguir esse caminho sem procurar Deus. 

 

Arlindo, que já começa a reagir aos tratamentos e já tem sedação reduzida, chegou a ter notícias falsas divulgadas na internet sobre sua morte consumada. 

"Nessas horas é que a gente vê quem tem todo o poder! Arlindo Cruz é macumbeiro e o Zeca Pagodinho também. Mas na hora do aperto, eles não batem tambor, mas sim, pedem uma corrente de oração. No fundo, no fundo, eles sabem que a única fonte é o nosso Deus.", escreveu um internauta.

“Espero que ele saia dessa, e se converta à Verdade da Palavra de DEUS,para assim ter a vida eterna nos céus e não em outro canto!! Espero q ele tenha outra chance de fôlego de vida, para se arrepender das mentiras da macumba e umbanda, espiritismo em geral em que vivia, chances que teve antes do AVC e as desperdiçou, e se converta agora ao Senhor Jesus Cristo!", disse outra usuária.

Em outro comentário, o seguidor expressa nitidamente a violência contra o candomblé: “Cadê os demônios disfarçados de orixás que não lhe protegem?”.

O assunto também divide opiniões e gera debates na internet. "Aí eu pergunto aos cristãos: vocês não adoecem? não morrem? não pegam nem gripe? agora da doença do preconceito eu sei que vocês sofrem e esta é mil vezes pior do que as doenças que acometem o povo de terreiro, muito chocante os comentário sobre a doença dele.", disparou um internauta criticando os comentários de preconceito.

"Povo ignorante da peste! Bando de hipócritas! Haja inferno para comportar essa corja de falsos cristãos! Que ele tenha a sua saúde reestabelecida o mais breve possível! Força e fé!", disse outra seguidora.

Em nota de repúdio e defesa aos comentários, a Comunidade de Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia, Caxuté, divulgo um texto nesta última segunda-feira (20), definindo as críticas ao candomblé como violenta. "Quando Arlindo Cruz é atacado por ser de afro-religioso todos nós somos atacados!", diz a nota.

"Ao longo da vida tenho visto ações de violência contra pessoas de Candomblé que, quando adoecem, certos cristãos tendem a afirmar que o sacerdote enfermo está sofrendo pelo mal que fazem. Fico a pensar que evangélico ou cristão, como sejam chamados não adocem e nem morrem. Estariam as doenças e a morte reservada somente para o povo de Candomblé?", diz a nota em um trecho.

"Colocar minha cultura como civilizada e 'evoluída' e dizer que a cultura do outro é primitiva é ridículo. Fé não se impõe, a fé é um ato cultural que é aprendido e cada povo e sociedade busca manifestá-la de suas variadas formas.!", diz a nota em outro trecho.

A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa, sendo a prática religiosa geralmente livre no país. No Brasil, a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.

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