Ugiette: 'Não faço parte de nenhuma organização criminosa'
Nesta quinta-feira (9), o promotor Marcellus Ugiette falou com a imprensa pela primeira vez sobre as acusações de possível envolvimento criminoso
O promotor Marcellus Ugiette, que na última segunda-feira (6) foi afastado de suas funções junto ao Ministério Público de Pernambuco por possível envolvimento criminoso, falou com a imprensa pela primeira vez nesta quinta-feira (9). Acompanhado de seu advogado, Emerson Leônidas, o promotor reiterou: “Não faço parte de nenhuma organização criminosa”. Aparentemente abalado por toda a situação que veio à tona depois que o seu nome foi envolvido na Operação Ponto Cego, o promotor acredita que está sofrendo perseguições pelo seu trabalho junto com a Promotoria de Justiça Criminal da Capital.
“Queria dizer de uma forma bem simples e rápida que nós não temos e não vamos apresentar para vocês nenhuma linha de defesa porque formalmente nós não temos nenhuma acusação contra o doutor Marcellus Ugiette”, afirmou o advogado do promotor. O advogado diz que tudo o que está acontecendo são insinuações da Polícia Civil do Estado, que liga a figura do Ugiette como um dos integrantes de uma organização criminosa que atuava no Rio Grande do Norte, Alagoas e Recife.
O promotor lembra que a polícia chegou fortemente armada em sua residência Foto: Julio Gomes/LeiaJáImagens
Emocionado e chorando, Marcellus Ugiette diz que mesmo se tivesse cometido algum crime, não deveria ser tratado da forma que foi e está sendo tratado pelos investigadores. Segundo o promotor, a Polícia Civil, juntamente com os oficiais de justiça do Ministério Público, arrombaram a porta de sua casa. Para ele, nada explica a ação dos agentes. “Mesmo se eu fosse o maior bandido, o que eu não sou, eu não precisava passar pelo o que passei. Os meus netos não precisavam ver aquilo. Será que as pessoas merecem isso? Se eles fizeram comigo imagina com outras pessoas”, salientou Ugiette.
Ainda conforme informações do promotor de justiça Marcellus Ugiette, no momento do arrombamento ele estava dormindo na casa com os seus três netos, dois filhos, irmão e sua esposa. Ele lembra que a polícia chegou fortemente armada em sua residência.
Essa ação a qual ele se refere como “incompatível”, foi o mandado de busca e apreensão pedido pela civil ao Ministério Público que atendeu a solicitação e permitiu a retenção dos equipamentos eletrônicos que estavam na casa do promotor.
Ugiette está sendo fortemente acusado de juntar os integrantes da quadrilha no momento em que os suspeitos da facção criminosa eram encarcerados. A civil informou que Marcellus unia os detentos na mesma prisão para facilitar a continuidade dos crimes. Segundo a Polícia Civil, para isso ele recebia presentes e dinheiro. “O promotor de execuções penais não é simplesmente dar o parecer (para transferência de presos, ou não). O meu dever enquanto Estado é cuidar das pessoas e eu não quero carregar em minhas costas a morte de alguém que eu poderia ter intervido”, salienta Ugiette.
A operação foi desencadeada na última sexta-feira (3) Foto: Julio Gomes/LeiaJáImagens
Em vários momentos da coletiva o promotor alega que a responsabilidade pela distribuição dos detentos é do Estado. “Eu não tenho o poder de falar que o detento vai ficar no presídio tal, na cela tal (sic)”, respaldou-se.
Marcellus Ugiette é promotor há 33 anos e conhecido em Pernambuco por já ter recomendado ao Estado a criação de plantões nos presídios para cumprimento de alvarás de soltura em até 24 horas. Denunciou más condições da Penitenciária Agrícola de Itamaracá, divulgando imagens de barracos e lonas construídos pelos presos e, dentre outras ações, já recomendou ao Estado a desativação do Complexo do Curado e a ativação de cadeias públicas no interior de Pernambuco para reduzir superlotação.
Operação Ponto Cego
A 31ª operação de repressão qualificada de Pernambuco foi desencadeada na manhã da última sexta-feira (3), pela Polícia Civil do Estado. A operação iniciou as investigações em janeiro de 2018, com objetivo de prender integrantes de uma organização criminosa envolvida no crime de estelionato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capital, advocacia administrativa (influência junto aos órgãos públicos e outras instituições) e furto qualificado.
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