Médicos acusam Hapvida de forçar prescrição de cloroquina
Profissionais dizem que operadora obriga a categoria a prescrever o remédio aos pacientes da covid-19
A operadora de saúde Hapvida estaria pressionando os médicos ligados à sua rede de atendimento a prescrever a hidroxicloroquina para pacientes acometidos pela covid-19. A denúncia foi feita pelos profissionais de saúde e publicada pela BBC Brasil, nesta quinta (13).
"Reforço a importância do uso da hidroxicloroquina", escreveu o coordenador da Hapvida em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, no grupo do Whatsapp dos médicos a serviço da empresa, no fim de julho. Em outras mensagens ele ainda teria dito que estava “revisando os prontuários diariamente”, e “vendo que alguns colegas não estão prescrevendo" a medicação.
Outra orientação compartilhada pelo coordenador seria ainda mais enfática: "a partir de hoje, TODOS os pacientes irão sair com a medicação da hidroxicloroquina (exceto os contraindicados)". De acordo com os apontamentos dos profissionais de saúde, o gestor chegou a dizer que a hidroxicloroquina deveria ser entregue até ao paciente que assinasse um termo de recusa para a medicação, "para caso, no futuro, mude de ideia". Também é dito que, os médicos que discordassem da política da operadora poderiam ser substituídos nos plantões.
Segundo a reportagem, as mensagens foram compartilhadas pelo mesmo coordenador em três grupos de WhatsApp de profissionais que atuam no Grupo São Francisco, rede do interior paulista recentemente adquirida pela Hapvida. Após a concordância de diversas pesquisas de que a hidroxicloroquina é ineficaz no combate à covid-19, a utilização do medicação nos pacientes acometidos pela doença vem sendo desaconselhada por instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS).
À BBC, a Hapvida negou que haja qualquer tipo de pressão para prescrição da hidroxicloroquina e alegou respeitar o parecer médico sobre os casos. Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que desconhece os casos, mas que situações do tipo devem ser denunciadas, pois “o princípio que deve, obrigatoriamente, nortear o tratamento do paciente é o da autonomia do médico".