Um correspondente da BBC anunciou nesta quarta-feira (31) que deixou a China após ameaças legais e pressões das autoridades sobre suas reportagens acerca de abusos de direitos humanos em Xinjiang e a pandemia do novo coronavírus.
John Sudworth declarou em uma entrevista à BBC Radio 4 que se mudou para Taiwan depois de nove anos em Pequim, pois era "muito arriscado continuar". As ameaças das autoridades chinesas "se intensificaram" nos últimos meses, acrescentou.
Pelo menos 18 correspondentes estrangeiros foram expulsos da China no ano passado, durante tensões com os Estados Unidos que dizimaram a presença da imprensa internacional no país.
Grupos de defesa da liberdade de imprensa afirmam que o espaço para repórteres estrangeiros operarem na China está cada vez mais controlado e que jornalistas estão sendo seguidos nas ruas, assediados online e tendo vistos negados.
"A BBC enfrentou um ataque de propaganda em massa, não apenas contra a própria organização, mas contra mim pessoalmente, por meio de várias plataformas controladas pelo Partido Comunista", disse Sudworth, que continuará trabalhando como correspondente na China de Taiwan.
"Enfrentamos ameaças de ação legal, bem como vigilância massiva agora, obstrução e intimidação, sempre e onde quer que tentemos filmar", acrescentou ele, relatando que ele e sua família foram "seguidos por policiais à paisana" enquanto partiam para voar fora da China.
A esposa de Sudworth, a jornalista irlandesa Yvonne Murray, deixou o país com ele "por causa da pressão crescente das autoridades chinesas", informou seu empregador RTE.
"Saímos com pressa porque a pressão e as ameaças do governo chinês, que já vinham acontecendo há algum tempo, se tornaram demais", disse ela à emissora estatal irlandesa.
"As autoridades tiveram problemas com os relatos do meu marido", acrescentou.
Nas últimas semanas, a mídia estatal chinesa e as autoridades atacaram repetidamente Sudworth por suas reportagens sobre supostas práticas de trabalho forçado visando a minoria muçulmana uigur na indústria de algodão de Xinjiang.
Negações chinesas
A embaixada chinesa na Irlanda disse nesta quarta-feira que Sudworth "tem sido fortemente criticado por muitos chineses por suas reportagens injustas, não objetivas e tendenciosas sobre a China".
No Twitter, a embaixada disse que "ninguém forçou ou forçará" sua esposa Murray a deixar a China. A BBC confirmou a transferência de Sudworth depois que o tablóide da mídia estatal Global Times informou que ele estava "escondido" em Taiwan.
"O trabalho de John expôs verdades que as autoridades chinesas não queriam que o mundo soubesse", disse a emissora em um comunicado no Twitter.
As autoridades de Xinjiang disseram em meados de março que Sudworth era alvo de um processo civil por produzir "notícias falsas" sobre a região.
"Todo mundo sabe que a BBC transmite um grande número de notícias falsas com forte viés ideológico", disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, a repórteres em Pequim.
Mas ela negou que o governo estivesse por trás da ação para processá-lo e, em vez disso, advertiu Sudworth por sair às pressas e não limpar seu nome.