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“Se as pessoas soubessem o que a gente passa todo dia, quando saímos de casa sem saber se vamos voltar, pois a qualquer momento corremos risco de encontrar um LGBTfóbico que tire nossa vida por conta do que somos, talvez elas se tornem mais empáticas.” O depoimento de Gleyson Oliveira, presidente da ONG Olivia (Organização da Livre Identidade e Orientação Sexual do Pará), traduz uma realidade: o Brasil é o país que mais mata LGBTs.
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Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 20 horas uma pessoa morre vítima da LGBTfobia. Em 2018, foram registradas 420 mortes, sendo 320 homicídios e 100 suicídios. São números um pouco menores se comparados aos de 2017, quando 445 mortes foram catalogadas, número recorde nos 39 anos de trabalho do GGB.
“A LGBTfobia será combatida quando a sociedade perceber que nós somos apenas humanos que querem amar. É bem melhor amar do que matar e odiar, que é exatamente o que fazem com a gente. O nosso recado é: parem de nos matar. A gente precisa viver, a gente quer viver e por isso nós estamos aí para lutar”, afirma Gleyson.
Letiery Cheval, do Comitê Estadual de Segurança Pública e Combate a LGBTfobia, informou que este ano, no Pará, o número de mortes LGBTs está em 28 pessoas. Porém, existe a possibilidade de o número ser maior, pois o acesso aos outros municípios é ruim e fica difícil conseguir informações. “A maioria dos assassinatos dos homossexuais é dentro de casa, e dos trans e travestis é nas ruas”, informa Cheval.
“A comunidade LGBT, atualmente, vem se organizando e se fortalecendo. Aqui no Pará existem diversas instituições já constituídas que lutam pelos direitos da população LGBT em todo o território do Estado. São espaços que foram criados para discutir a questão de políticas públicas. A gente vê um grande avanço da própria população se inserindo e procurando discutir as problemáticas existentes sobre esse tema. No entanto, a desunião da comunidade continua sendo uma grande dificuldade”, comenta Eduarda Lacerda, representante do Grupo de Homossexuais do Pará (GHP).
De acordo com Eduarda, a comunidade avançou bastante em relação aos direitos, como a adoção de crianças por casais LGBTs, o casamento de pessoas do mesmo sexo e agora a criminalização da LGBTfobia dentro da lei do racismo, mas não é apenas isso que os LGBTs precisam. “A garantia da inclusão dessas pessoas nas escolas e nas universidades, o acesso integral dos LGBTs no Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, a valorização da vida enquanto pessoa LGBT também são direitos essenciais”, defende.
A ONG Olivia foi criada em 2014 com a intenção de acolher e cuidar dos LGBTs psicologicamente afetados e em processo de aceitação da sua orientação sexual e identidade de gênero. “Nós atendemos pessoas que procuram atendimento psicológico porque sabemos que a comunidade é agredida verbalmente e fisicamente o tempo inteiro, além do alto índice de suicídio entre os LGBTs. Eles precisam de uma fortaleza e de um cuidado maior. A gente sabe também que o atendimento psicológico não é acessível para todos”, explicou Gleyson Oliveira. A ONG tem cinco psicólogos e todos são LGBTs que fazem o trabalho de forma voluntária. Para agendar a sua consulta, basta ligar para a sede: 3201-7285.
Conquistas e preconceito
“É muito complexo falar sobre a situação atual da comunidade LGBT no Brasil, porque a gente já tem muitas vitórias, mas o preconceito ainda é grande, causado também por essas nossas vitórias. Em 2019 a gente conseguiu criminalizar a LGBTfobia e mostrar que esse crime não deve ser aceito, mas a gente ainda enfrenta muitos discursos de ódio e ainda encontra casos de LGBTfobia em lugares onde isso não deveria acontecer, como por exemplo nas escolas”, alegou Marcos Melo, integrante da ONG Olivia.
Segundo Marcos, a comunidade já obteve muitas conquistas por meio de ações e luta. Uma parte da sociedade conservadora, no entanto, afirma, resiste. “Isso acaba se tornando uma eterna guerra, principalmente com o cenário atual de um governo que nos ataca diretamente, corta os nossos direitos e põe as nossas vidas em risco. O governo atual legitima a violência contra a população LGBT, normalizando e banalizando os ataques. De um lado a gente enxerga os nossos avanços e conquistas, mas do outro a gente fica muito preocupado com um governo que traz de volta diversos retrocessos”, destaca.
Marcos afirma que a próxima e maior conquista da população LGBT é a educação inclusiva e respeitosa que discute identidade de gênero e orientação sexual com jovens e adolescentes, pois isso vai evitar que as pessoas cresçam frustradas e violentas. Em vez de prender quem cometeu um crime, observa, é importante educar aquela pessoa para que ela não cometa esse crime.
“Sempre que eu vejo um ato de LGBTfobia, tento entender o que leva uma pessoa a fazer isso e eu vejo uma vida cheia de traumas, uma vida sem muita informação, uma criação que talvez não tenha feito com que aquela pessoa refletisse. Eu espero que essas pessoas parem de enxergar o mundo a partir do olhar delas apenas. Elas precisam enxergar o mundo com um olhar diverso. Nós não pensamos igual, nós não agimos igual e nós nem queremos agir assim”, disse Marcos.
Algumas ideias de ações para o governo, propostas por Luiz Mott, fundador do GGB, para diminuir as estatísticas de violência e discriminação contra LGBTs, são: educação sexual e de gênero para ensinar a população sobre direitos humanos e cidadania dos LGBTs; aprovação de leis afirmativas que garantem a cidadania plena da população LGBT; políticas públicas na área de saúde, direitos humanos e educação que proporcionem igualdade cidadã à comunidade; e exigir que a polícia e a justiça investiguem e punam com toda severidade os crimes LGBTfóbicos. Dois mecanismos de denúncia contra a LGBTfobia são o 181, estadual, e o 100, nacional.
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