Luto e melancolia em tempos de coronavírus

A dor da perda de entes queridos pode levar algumas pessoas a problemas de saúde mental

por Alfredo Carvalho sex, 18/09/2020 - 17:41
Pexels Pessoas próximas ao enlutado devem observar se ele aos poucos consegue ir retomando a vida normal Pexels

Como consequência das mortes causadas pela pandemia do coronavírus (Covid-19) muitas pesoas foram obrigados a lidar com a dor da perda de seus entes queridos. Apesar de o luto ser um processo que faz parte da vida humana, há situações em que ele não é elaborado de maneira apropriada, quando então pode trazer prejuízos à saúde mental. 

“Especialistas afirmam que o luto se cura sozinho em um espaço de duas semanas, onde a pessoa já demonstra sinais de religação com o mundo exterior”, comenta o psicólogo e diretor do Instituto de Saúde Mental e Comportamento (ISMC), Diogo Bonioli.

Durante o processo de luto, a libido, que funciona como a energia que fortalece a vontade de viver de um indivíduo, fica desprovida de prazer. A consciência tenta proteger o ser humano da perda e do desprazer. “Esse processo é o que vemos como um recolhimento ou tristeza. No entanto, dentro de duas semanas, a libido começa a dar sinais de ligação a novos objetos externos e de religação aos antigos, indicando que a pessoa está lidando de modo saudável”, explica o psicólogo.

Por se tratar de uma dor pessoal, apenas as experiências passadas do próprio enlutado podem auxiliá-lo nesse momento, contudo, é importante a companhia e atenção de outra pessoa, que deve observar se o indivíduo está realmente de luto, ou se o caso não se transformou em uma melancolia.

“Caso estejamos diante de uma melancolia, será de extrema importância a companhia até o consultório de psicologia ou psiquiatria e uma vigilância sobre as necessidades básicas da pessoa tal como comer, tomar banho e vigiar sono”, aconselha Bonioli.

De acordo com o psicólogo, esse procedimento deve ser realizado pois o paciente melancólico corre o risco de prejudicar a própria vida em função do luto. O estado de luto, por si só, não leva ninguém a precisar de ajuda psicológica, mas o estado de melancolia já indica que a pessoa precisa cuidar da saúde mental.

“Melancolia é uma experiência de morte do próprio enlutado, por ter perdido o motivo do seu luto. Assim, o luto do melancólico é duplo, pois sofre a morte e a perda do seu objeto de desejo”, descreve Bonioli. O psicólogo destaca que o luto só vai necessitar de ajuda profissional no momento em que enlutado não superar a própria morte simbólica.

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