Crianças especiais enfrentam dificuldades em aula remota
No ambiente virtual, ansiedade e distância prejudicam desempenho. Na volta ao modelo presencial, adaptação vai exigir acolhimento, dizem especialistas.
A pandemia da covid-19 obrigou as escolas a adotar o Ensino a Distância (EAD), com regime remoto. Muitas crianças, no entanto, enfrentam dificuldades nesse modelo, sobretudo aquelas que possuem necessidades especiais, e também no retorno às aulas presenciais.
A administradora Rita Bezerra, de 39 anos, mãe de um filho autista, relata os problemas de adaptação do aluno. "Ele teve muita dificuldade, principalmente por conta da ansiedade, porque como tudo é no tempo dele, às vezes ele não queria fazer as atividades em casa", disse Rita.
"O material dele é adaptado para o Transtorno do Espectro Austista (TEA), e as professoas me informaram quais atividades fazer nos livros. Ele não consegue acompanhar aulas no computador, por isso faz atividades impressas ou no livro", comentou a administradora.
Rita alega que a escola deveria dispensar maior atenção às crianças especiais nesse momento. "Antes da pandemia ele costumava frequentar aulas com crianças mais novas e passou a comparecer com jovens da idade dele, o que acabou prejudicando essa interação. Com isso, eu e o meu marido compramos um piscina de plástico para ele brincar com os irmãos e melhorar o contato", frisou.
Rose Mary, pedagoga, disse que o importante com as crianças especiais é estabelecer uma rotina. "É fundamental para as crianças ter um horário pra brincar e pra estudar", destacou.
Rose também deu dicas sobre como os pais devem lidar com a ansiedade dos filhos por não poderem sair de casa e interagir com outras crianças. “Minha experiência como professora e mãe me fez ver que assistir filmes em família, realizar antigas brincadeiras educativas como detetive ou jogos de tabuleiro como banco imobiliário fazem você interagir com seu filho e ter um contato que ajuda no controle da ansiedade.”
Carla Guerra Teixeira, psicóloga e especialista em Saúde Mental e psicanalista em formação pelo Círculo Psicanalítico do Pará (CPPA), disse que, além dos cuidados contra a covid-19, é necessário ter cautela com os costumes criados. “Aos pais de filhos com alguma síndrome ou transtorno, é interessante pensar na mudança de rotina, já que estamos há mais ou menos sete meses sem acesso as aulas presenciais”, disse a psicóloga.
"Então, principalmente crianças com autismo podem sentir muito mais desconforto a esse retorno do que outras que não possuem dificuldades às mudanças bruscas em seus hábitos. Um conselho seria acolher essas crianças, dando voz ao que elas têm a dizer aos pais, avós ou professores”, observou.
A psicóloga acredita na necessidade de amparo da criança para uma melhor produtividade. “O rendimento escolar, mesmo sendo presencial, é específico para cada aluno. Aquele aluno ou aluna que possui algum tipo de dificuldade, seja cognitiva, física ou comportamental, pode apresentar baixo rendimento, já que sua atenção e concentração podem sofrer desestabilidades com as mudanças do ambiente”, afirmou Carla.
“O importante seria realizar um acompanhamento psicopedagogo e/ou psicológico para manter um acolhimento e conduzir de forma específica, dependendo da necessidade de cada criança”, finalizou.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Semec), na segunda-feira (19) houve o retorno às aulas de 33% dos alunos do 6º e 7º anos, com limite de 12 alunos por turma. Essa é a terceira etapa de cinco para a volta. O quarto estágio tem previsão de início para o dia 3 de novembro.
Por Saul Anjos.