Estudos mostram sequelas meses após a recuperação de Covid

Especialista conta quais são os sintomas mais recorrentes e analisa situação pandêmica no Brasil.

por Rafael Sales qua, 12/05/2021 - 16:37
Pete Linforth / Pixabay Pete Linforth / Pixabay

No final de abril de 2021, uma das mais conceituadas revistas científicas, a Nature, publicou um estudo referente aos sintomas e consequências da Covid-19 (SARS-CoV-2) depois da reabilitação. De acordo com cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, foram identificadas inúmeras reações depois da recuperação. Um dos pilares para o estudo foi a base de banco de dados nacionais de saúde de 87 mil pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, que foram diagnosticados com reações variadas. Ao que tudo indica, a internação hospitalar pela Covid-19, é apenas a ponta do iceberg.

Matheus Benjamim é biomédico, especialista em virologia e epidemiologia, e conta que o novo coronavírus tem um caráter sistêmico, que pode afetar o corpo inteiro. “Ela [Covid-19] começa a infecção pelas vias respiratórias, pelas vias superiores, vias inferiores, e depois se alastra pelo corpo inteiro. Isso é muito preocupante”. Desta forma, a doença gera uma espécie de “Síndrome Pós-Covid” e apresenta sintomas e sequelas após a 13ª semana em que o indivíduo se recuperou do vírus. “Uma Síndrome Pós-Covid pode afetar inclusive assintomáticos, desde a parte dermatológica, até a parte cardíaca”, relata.

Dentre os sintomas mais recorrentes, o especialista conta que o mais preocupante é referente ao coração, uma vez que já foram identificadas danificações na estrutura do órgão muscular, inclusive de crianças. “A doença começa como pulmonar, passa por um processo pulmonar cardiovascular, depois pode afetar a parte renal de filtragem de sangue”. O biomédico complementa dizendo que além desses fatores, também foram identificadas sequelas relacionadas à parte mental, como distúrbios cognitivos, além de perda de ar e dores musculares. “Possivelmente não vão matar, não vão evoluir para um caso mais grave, mas  prejudicam a qualidade de vida”, afirma.

De acordo com Benjamim, devido ao atual cenário do Brasil - em que tantas vezes há a falta de cumprimento de protocolos de segurança – existe uma tendência de o país ser um local a desenvolver outras novas variantes do vírus, além da  P1, P2 e N9, que já estão espalhadas em vários estados. “Tudo indica que vamos continuar com essa doença por muito tempo.  E que novas variantes podem ser tão mutantes que o nosso corpo não os reconheça com os anticorpos”, explica. O especialista lembra que  os anticorpos são como vigias à procura de um indivíduo que causa problemas, e que, quando este sujeito sofre uma modificação em sua estrutura, é mais difícil de identificá-lo.

“O Brasil está participando de um experimento biológico, na verdade. Ele [Brasil] tem todos os materiais necessários para continuar incentivando a doença, já que a contenção do vírus não é adequada, pois vivemos essa situação de ‘quase quarentena’ e ‘quase isolamento social’. As medidas atuais, segundo Benjamim, não são suficientes e apenas desafogam os leitos de hospitais de maneira momentânea. “O vírus vai se proliferando, sem controle, entrando em contato com novas pessoas, novos DNA’s, e com isso a possibilidade de mutação continua”, alerta.

Evolução da Covid-19

O especialista em virologia conta que ainda não foi confirmado, mas existem evidências que mostram a possibilidade da Covid-19 se mesclar ao DNA, de maneira semelhante ao vírus HIV, que provoca a AIDS. “Se o coronavírus conseguir se integrar ao nosso DNA, além da contaminação respiratória, a gente tem uma contaminação herdada de pai para filho. Isso ainda não pode ser afirmado, surgiram evidências a respeito em alguns artigos que mostram esse caminho, mas a gente torce para que não se comprove essa tese”. Benjamim completa dizendo que já houve casos na história de vírus mutantes geneticamente transmissíveis, e as condições do Brasil tornam este fator mais propenso, mas isso ainda continua sendo raro.

 

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