Queima de Alcorão na Suécia agita comunidade muçulmana

Iraquianos conseguiram entrar brevemente na embaixada da Suécia em Bagdá, nesta quinta (29), em protesto depois que uma cópia do Alcorão foi queimada em Estocolmo

qui, 29/06/2023 - 21:02

Dezenas de iraquianos conseguiram entrar brevemente na embaixada da Suécia em Bagdá, nesta quinta-feira (29), em protesto depois que uma cópia do Alcorão foi queimada em Estocolmo, o que provocou uma onda de indignação entre a comunidade muçulmana.

Os manifestantes, apoiadores do líder xiita iraquiano Moqtada al Sadr, permaneceram na embaixada sueca por cerca de 15 minutos e saíram pacificamente quando as forças de segurança chegaram, segundo um fotógrafo da AFP.

Sadr pediu a "saída da embaixadora" depois que Salwan Momika, um refugiado iraquiano, queimou várias páginas do Alcorão na quarta-feira do lado de fora da maior mesquita de Estocolmo.

A ação de Momika ocorreu no primeiro dia do Eid al-Ada, um dos maiores feriados religiosos para os muçulmanos. Durante o protesto, autorizado pela polícia sueca, ele também pisou no livro sagrado.

Nesta quinta, o iraquiano de 37 anos declarou que repetiria o ato no prazo de dez dias.

Em entrevista ao jornal sueco Expressen, ele disse que tinha noção das consequências de seu ato e que já havia recebido "milhares de ameaças de morte".

O Ministério de Relações Exteriores iraquiano anunciou hoje que convocou a embaixadora sueca em Bagdá, Jessica Svärdström, para notificá-la da "enérgica reprovação do Iraque" à autorização dada pelas autoridades do país nórdico a "extremistas" para queimar o Alcorão.

Na quarta-feira, o governo iraquiano condenou o que classificou de "atos racistas, incitação à violência e ao ódio" que ocorrem "repetidamente" em países que "se orgulham de abraçar a diversidade e respeitar as crenças dos demais".

- Onda de indignação -

O gesto de Salwan Momika foi condenado em muitos países de maioria muçulmana, incluindo Arábia Saudita, Egito, Marrocos, Irã e Turquia.

"Ensinaremos aos ocidentais arrogantes que insultar os muçulmanos não é liberdade de expressão", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, durante uma aparição na televisão.

A Arábia Saudita, por sua vez, denunciou o que chamou de "atos odiosos e repetidos [...] que incitam o ódio, a exclusão e o racismo, e contradizem esforços que buscam difundir valores de tolerância".

O Kuwait, outra monarquia do Golfo, pediu que os autores de tais "atos hostis" fossem processados e impedidos "de usar o princípio das liberdades [...] para justificar sua hostilidade contra o Islã".

O Irã também criticou a ação do refugiado iraquiano. "O governo e o povo da República Islâmica do Irã [...] não toleram tal insulto", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanani.

O Marrocos, por sua vez, convocou seu embaixador na Suécia para consultas e condenou o ato "irresponsável" e as "provocações repetidas, cometidas sob o olhar complacente do governo sueco".

A queima do Alcorão também provocou reação do Egito, o mais populoso dos países árabes, que condenou um "gesto vergonhoso e uma provocação aos sentimentos dos muçulmanos".

Síria, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Afeganistão e Líbano também aderiram às condenações.

Além disso, o gesto do refugiado iraquiano na Suécia provocou a indignação de organizações como a Liga Árabe, que denunciou o que considerou uma "agressão ao coração de nossa fé muçulmana".

Já o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo (CCG) responsabilizou as "autoridades suecas por qualquer reação derivada desses atos" e a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) convocou uma "reunião de urgência" para a próxima semana na cidade saudita de Jidá para "debater medidas contra estes atos desprezíveis".

- 'Sim ao Alcorão' -

Durante o protesto em frente à embaixada do país nórdico em Bagdá, os manifestantes distribuíram panfletos nos quais se lia em inglês e árabe "Nossa Constituição é o Alcorão. Nosso líder, Al Sadr".

Os manifestantes também queimaram bandeiras do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+, e escreveram "Sim ao Alcorão" na entrada da embaixada.

Esta não é a primeira vez que esse tipo de ação é registrada na Suécia e em outros países europeus.

No passado, algumas delas foram promovidas por movimentos de extrema direita, gerando manifestações e tensões diplomáticas.

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