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Dezenas de iraquianos conseguiram entrar brevemente na embaixada da Suécia em Bagdá, nesta quinta-feira (29), em protesto depois que uma cópia do Alcorão foi queimada em Estocolmo, o que provocou uma onda de indignação entre a comunidade muçulmana.

Os manifestantes, apoiadores do líder xiita iraquiano Moqtada al Sadr, permaneceram na embaixada sueca por cerca de 15 minutos e saíram pacificamente quando as forças de segurança chegaram, segundo um fotógrafo da AFP.

Sadr pediu a "saída da embaixadora" depois que Salwan Momika, um refugiado iraquiano, queimou várias páginas do Alcorão na quarta-feira do lado de fora da maior mesquita de Estocolmo.

A ação de Momika ocorreu no primeiro dia do Eid al-Ada, um dos maiores feriados religiosos para os muçulmanos. Durante o protesto, autorizado pela polícia sueca, ele também pisou no livro sagrado.

Nesta quinta, o iraquiano de 37 anos declarou que repetiria o ato no prazo de dez dias.

Em entrevista ao jornal sueco Expressen, ele disse que tinha noção das consequências de seu ato e que já havia recebido "milhares de ameaças de morte".

O Ministério de Relações Exteriores iraquiano anunciou hoje que convocou a embaixadora sueca em Bagdá, Jessica Svärdström, para notificá-la da "enérgica reprovação do Iraque" à autorização dada pelas autoridades do país nórdico a "extremistas" para queimar o Alcorão.

Na quarta-feira, o governo iraquiano condenou o que classificou de "atos racistas, incitação à violência e ao ódio" que ocorrem "repetidamente" em países que "se orgulham de abraçar a diversidade e respeitar as crenças dos demais".

- Onda de indignação -

O gesto de Salwan Momika foi condenado em muitos países de maioria muçulmana, incluindo Arábia Saudita, Egito, Marrocos, Irã e Turquia.

"Ensinaremos aos ocidentais arrogantes que insultar os muçulmanos não é liberdade de expressão", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, durante uma aparição na televisão.

A Arábia Saudita, por sua vez, denunciou o que chamou de "atos odiosos e repetidos [...] que incitam o ódio, a exclusão e o racismo, e contradizem esforços que buscam difundir valores de tolerância".

O Kuwait, outra monarquia do Golfo, pediu que os autores de tais "atos hostis" fossem processados e impedidos "de usar o princípio das liberdades [...] para justificar sua hostilidade contra o Islã".

O Irã também criticou a ação do refugiado iraquiano. "O governo e o povo da República Islâmica do Irã [...] não toleram tal insulto", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanani.

O Marrocos, por sua vez, convocou seu embaixador na Suécia para consultas e condenou o ato "irresponsável" e as "provocações repetidas, cometidas sob o olhar complacente do governo sueco".

A queima do Alcorão também provocou reação do Egito, o mais populoso dos países árabes, que condenou um "gesto vergonhoso e uma provocação aos sentimentos dos muçulmanos".

Síria, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Afeganistão e Líbano também aderiram às condenações.

Além disso, o gesto do refugiado iraquiano na Suécia provocou a indignação de organizações como a Liga Árabe, que denunciou o que considerou uma "agressão ao coração de nossa fé muçulmana".

Já o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo (CCG) responsabilizou as "autoridades suecas por qualquer reação derivada desses atos" e a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) convocou uma "reunião de urgência" para a próxima semana na cidade saudita de Jidá para "debater medidas contra estes atos desprezíveis".

- 'Sim ao Alcorão' -

Durante o protesto em frente à embaixada do país nórdico em Bagdá, os manifestantes distribuíram panfletos nos quais se lia em inglês e árabe "Nossa Constituição é o Alcorão. Nosso líder, Al Sadr".

Os manifestantes também queimaram bandeiras do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+, e escreveram "Sim ao Alcorão" na entrada da embaixada.

Esta não é a primeira vez que esse tipo de ação é registrada na Suécia e em outros países europeus.

No passado, algumas delas foram promovidas por movimentos de extrema direita, gerando manifestações e tensões diplomáticas.

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