Falcão: “O PT é um partido que mais combateu a corrupção"

Em entrevista exclusiva, o líder nacional do PT também disse que na visão da oposição as doações para o PT são vistas como propina, e que para os outros partidos "é contribuição para irmã Dulce”

por Élida Maria qui, 04/06/2015 - 07:00
Líbia Florentino/LeiaJáImagens/Arquvo Para o líder nacional Marta Suplicy cuspiu no prato que comeu Líbia Florentino/LeiaJáImagens/Arquvo

Formado em jornalismo, o advogado, ex-deputado federal e estadual por São Paulo e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Goethe da Costa Falcão, 72 anos, conversou com exclusividade com a equipe do Portal LeiaJá recentemente na sua vinda ao Recife. Ex-jornalista de veículos importantes como A Gazeta, Diário da Noite, Jornal da Tarde e Folha de São Paulo, entre outros, Falcão sempre foi contra a ditadura militar de 1964, inclusive, foi preso político durante os anos de 1970 a 1973 quando foi militante da organização política armada brasileira de extrema esquerda, Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Na liderança do PT desde 2011, o líder nacional conversou sobre as dificuldades enfrentadas pelo partido, as estratégias para as eleições de 2016 e as parcerias polêmicas com o PMDB e o PP, este último, ameaçou deixar o governo recentemente. 

Ainda na entrevista, Falcão analisou a possibilidade da volta de Lula em 2018, as divergências petistas em Pernambuco e a saída de Marta Suplicy do PT. A conversa com o petista foi realizada durante o Encontro Estadual do PT – 2ª Etapa do V Congresso, na capital pernambucana, onde o ex-deputado confirmou a existência de diálogos com o PSB local, apesar de assinar uma moção em apoio aos professores grevistas. 

Confira a entrevista na íntegra:

Leiajá (L.J): Quais são os principais desafios enfrentados pelo senhor como líder do PT?

Rui Falcão (R.F): A principal dificuldade é, que pelo fato de nós nunca no governo termos cuidado da democratização dos meios de comunicação, a mídia monopolizada é o verdadeiro partido de oposição no país, e elas têm nos partidos políticos de oposição seus condutos eleitorais para buscar o voto. Mas, quem forma consciência, quem influi nos costumes, quem manipula as informações, quem seleciona e quem omite é a mídia monopolizada e isso coloca o PT apenas nos períodos eleitorais, é que a gente tem acesso aos grandes meios. Nós ganhamos a eleição em 2014 em grande medida, porque durante 45 dias tivemos 11 minutos na televisão para expor nossas realizações, nossas ideias. Se não fosse isso! Claro que não foi só por isso, tivemos grandes apoios, principalmente no segundo turno, mas o fato de a gente ter tido tempo na televisão e no rádio, ajudou muito. Passa a eleição e a gente não tem mais esse tempo. Então, essa foi a principal dificuldade.

L.J: Como o PT avalia as doações financeiras para campanhas políticas?

R.F: Há tentativa agora de criminalizar o PT, tentando transformar essas doações, que são permitidas pela lei, e que nós queremos que acabe, mas nós seguimos a lei, e eles querem agora, dizer que doação para o PT é propina e doação para os outros partidos é contribuição para irmã Dulce. Essa também é uma luta que nós estamos fazendo para reverter, para dialogar na sociedade, para dizer que o PT é um partido que mais combateu e combate a corrupção. Nós não temos nem conivência nem convivência com a corrupção. Se algum filiado nosso comprovadamente incorrer em prática de corrupção, que seja nosso juízo, ele não ficará mais no PT. 

L.J: Quais serão as estratégias do PT para ter eleições vitoriosas no próximo ano?

R.F: Primeiro nós vamos fazer um encontro nacional para discutir as táticas das eleições municipais e que políticas de alianças nós vamos fazer, com quais partidos nós vamos fazer. Mais importante que isso é o PT sair às ruas, se reaproximar dos movimentos sociais com mais vigor, dialogar com a população, procurar construir planos de governo ouvindo a população, fazendo pesquisas, melhorando a condição de nossas prefeituras, onde a gente é governo, onde planeja a sucessão e ter propostas claras para debater com a população. Quando a gente está na oposição temos feito críticas aos governos e o que a gente propõe no lugar deles. Isso pode ser como o caso daqui do Recife, onde não sei qual vai ser o debate daqui do diretório municipal, mas é uma capital que seguramente nós devemos ter candidatura e tentar retomar a prefeitura porque o que se fez com a nossa saída eu acho que mostra a população que o PT é melhor de governo do que o nosso adversário.

L.J: O senhor chegou a pedir o cargo de Marta Suplicy após sua saída do PT. Como foi costurada esta decisão e como o senhor avalia a saída da senadora do partido?

R.F: Foi uma desfiliação movida por ambição desmedida por projetos pessoais. Eu costumo dizer no popular que ela cuspiu no prato que comeu porque ninguém no PT de São Paulo teve tantas oportunidades como ela. Foi prefeita, foi candidata à governadora, foi candidata à prefeita na reeleição, disputou uma prévia para ser candidata ao governo do Estado, foi deputada federal, ministra duas vezes e agora senadora, sempre com o apoio do PT, e ela sai protestando que está saindo porque o PT está praticando corrupção, porque ceceou as atividades, as atividades políticas e partidárias dela, que é uma grande mentira, e inclusive, no caso das doações, as mesmas doações que ela diz que nós incorremos em práticos são doações que fizeram a campanha dela. Eu tinha dito que achava inútil pedir o mandato, até porque achava que o Supremo iria referendar esta jurisprudência de que cargo majoritário não incorre em fidelidade, mas como o diretório estadual e a sua executiva por unanimidade decidiu pedir o mandato dela, e estavam colocando como condição para poder postular no TSE que houvesse a concordância do diretório nacional, eu não quis por minha vontade, nem impor nenhum tipo de veto a uma decisão de um diretório estadual. Aí, simplesmente subscrevi a procuração e no dia seguinte saiu à decisão do Supremo (STF) e, praticamente torna inútil o requerimento do mandato dela. Mas teve um significado político em dizer que o mandato que ela conquistou, mesmo o Supremo achando contrário, mas ela conquistou com o nosso apoio, das pessoas que confiam no PT, que votam no PT e ela vai sentir isso na eleição municipal. Mas enquanto ela se desfilou nós tivemos nesse período até 14 de março, 16.700 mil novos filiados. Então, saem os oportunistas e veem aqueles que querem nos ajudar a construir o nosso projeto. 

L.J: Muito se fala na volta de Lula ao cenário político em 2018. Ele deve, de fato, ser candidato à presidência da República novamente?

R.F: Primeiro nós precisamos passar por 2016 para poder pensar em 2018, mas o que eu posso dizer é que o Lula goza de ótima saúde, continua a ser considerado o melhor presidente que o país já teve, a melhor liderança nacional, e eu sinto por onde passo, por onde converso que as pessoas querem ver o Lula de volta em 2018. Aliás, essa é uma das razões dessa veroz oposição contra nós porque eles temem a volta do Lula, mas nada disso foi decidido. Ele não se diz candidato, e, numa eventualidade dele não ser candidato, nós temos outros nomes também. O PT produz lideranças novas, tem condições de dirigir o país. A presidenta Dilma, por exemplo, nunca tinha disputado uma eleição e é uma boa presidenta com o apoio do PT, do Lula e de seus aliados. O desejo das pessoas, dos petistas, dos amigos e do povo é que Lula volte em 2018, mas não há nenhuma deliberação neste sentido, nem ele está fazendo campanha.

L.J: O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB) tem travado algumas pautas do governo. No entanto, o vice-presidente Michel Temer é do mesmo partido dele. Como é desenhado o apoio político do PMDB?

R.F: As alianças no Brasil são complexas porque nem todos os partidos têm programas claros, coerência com os programas, então, acaba tendo muitas contradições no interior desses partidos. Ademais, aliança significa unidade em alguns pontos e divergências em outros, senão, seríamos todos do mesmo partido e nem sempre também essas contradições explicitam nos planos das ideias. Elas se dão nos planos dos interesses, de ocupações de espaços, do poder. É por isso que se diz que há um governo de coalizão, não é um governo do PT. A presidenta é do PT, há ministros do PT, e no Brasil, pelo tipo do processo eleitoral que existe, e é por isso que nós queremos uma reforma política verdadeira com a convocação de assembleia constituintes exclusiva, a composição do Congresso Nacional ela, muitas vezes, trava a efetivação de reformas, ela impede que o presidente cumpra o seu programa de governo numa contradição de que: quem te ajuda a eleger depois te impede a governar! Esse é o quadro que nós vivemos hoje não só em relação ao PMDB, mas em relação a outros estados. Você vê aqui no Estado de Pernambuco, gente que é da base do governo Dilma em Brasília fala mal da Dilma na Assembleia Legislativa, na imprensa, então, não há uma identidade partidária nacional quando como existe, por exemplo, no PT. O presidente da Câmara está querendo nos impor uma pauta conservadora, inclusive, nos planos de costumes, das questões libertárias, como por exemplo, quando tenta reduzir a maioridade penal para 16 anos, quando faz prevalecer através de um golpe à questão de financiamento empresarial para os partidos políticos. Felizmente ele sofreu uma derrota na questão do distritão que se aprovado iria significar praticamente o fim dos partidos políticos e o predomínio de candidaturas individuais sem compromissos, celebridades, oportunistas de ocasião, e assim por diante. E eu espero que na questão do financiamento empresarial como precisa ainda de mais uma votação na Câmara e duas no Senado, que a pressão da sociedade possa fazer reverter esse resultado, mas, independente dele, esse processo de contra reforma agora, ela mostra com muita nitidez para a população. Se a gente quiser de fato uma verdadeira reforma política, só com uma constituinte exclusiva, fora este Congresso que está aí.

L.J: Recentemente o PP do deputado Eduardo da Fonte chegou a ameaçar que sairia da base aliada do governo. O senhor chegou a conversar com o parlamentar sobre isso?

R.F: Não tenho falado com ele, mas não acredito que isso passe de ameaça. No plano nacional eles participam de um ministério importante, estão apoiando o governo no plano nacional e isso faz parte dessas contradições que eu te disse. Lá é uma coisa e chega ao Estado é outra. Em geral, é briga por espaços de poder, e não ideias diferentes quanto a condução do governo, infelizmente. 

L.J: Apesar de o PT-PE ter intensificado a unidade no plano local, são notórias as divergências de lideranças como Dilson Peixoto e João da Costa. Essa unidade precisa ser melhor costurada?

R.F: Acho que sim, e o Congresso é um momento para isso. O PT é um partido com muitas diversidades, com tendências de opinião e isso também é a nossa força, porque a gente consegue fazer unidade na diversidade. Eu sei que a presidente Teresa, ela tem se empenhado muito para reforçar essa unidade que foi construída a duras penas depois do processo de eleição municipal. Acho que há uma boa convivência dela com o Bruno também, que é o vice-presidente, uma liderança forte, o senador Humberto Costa, o próprio João da Costa, o João Paulo. Das vezes que eu tenho podido conversar com as principais lideranças daqui, eu sinto o desejo, apesar de uma ou outra divergência, de ter unidade, até porque, depois dos acontecimentos daqui que nós vivemos e da campanha que se faz contra nós, se não houver unidade (...). Eu acho que todos os grupos daqui e todas as correntes de união estão convencidos que é preciso deixar de lado algumas divergências secundárias, apostar no empenho da Teresa de ter um partido forte, unido, como é o modelo do PT de conviver com a diversidade, mas que na hora de seguir a decisão da maioria, consultar os filiados, acho que nós estamos indo num bom caminho. 

L.J: No mês de abril o PT lançou um documento afirmando ser contra o financiamento empresaria de campanha e, também, assumindo ter tido algumas falhas ao longo da caminhada. Quais são essas falhas?

R.F: Eu falei das falhas porque os acertos são tantos que não era o caso de ficar enumerando. O melhor acerto são esses 12 anos que nós mudamos completamente a vida do país. Quando eu falo em algumas falhas é porque o partido cresce, também, quando se renova e quando eles criticam. A crítica de ideias é que faz avançar. As pessoas que não mudam de ideias nunca são pessoas dogmáticas, se não se mudasse de ideias, até hoje se acreditara que é o sol que gira em torno da terra.

*Confira no vídeo abaixo as falhas apontadas pelo presidente nacional do PT:

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