Aécio faz discurso político no julgamento de Dilma

O tucano disse ter alertado, durante a campanha de 2014, a adversária sobre a crise econômica, a inflação e a acusou de que ter como prioridade vencer as eleições em detrimento da situação do país

por Thabata Alves ter, 30/08/2016 - 21:20
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Acreditando que Dilma sofrerá o impeachment, o parlamentar modulou o tom do seu discurso para um mais voltado aos eleitores Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O senador e principal adversário de Dilma Rousseff (PT) nas eleições de 2014, Aécio Neves (PSDB-MG) fez seu discurso afirmando que ao contrário do que disse a petista, a culpa do processo de impeachment não é da “oposição” a ela. No início de seu discurso além de tecer diversos elogios a condução de Ricardo Lewandowiski durante o julgamento de impeachment e disse que não estava ali para julgar a biografia de Dilma e sim a “conduta” dela.

“O que o Brasil espera que possamos dizer nas próximas horas é se efetivamente a presidente cometeu crime de responsabilidade e violou a Constituição. Sabe vossa Excelência, sabemos todos nós que a nossa Constituição funciona no sistema de freios e contrapesos, exatamente para que um poder não se sobreponha a outro. Em todas as constituições democráticas nós vamos encontrar ali instrumentos que possam impedir que os governantes se transformem em governantes totalitários e naveguem acima da legislação”, pontuou.

Ao falar sobre os ataques que a presidente afastada fez a sua oposição, que avaliou com uma absoluta inversão de valores, o tucano frisou: “Não, não é a oposição que é responsável pelos delitos cometidos. Não tendo como atacar o primoroso, extraordinário e histórico relatório do senador Anastasia, o atacam, o acusam. Não podendo, senhoras e senhores senadores acusar aqui ou debater, ou mesmo responder a extraordinária ação da acusação, de alguma forma conduzida pela doutora Janaina e também pelo doutor Reale, buscam desqualificar a doutora Janaina.          

Ele também fez a defesa da imprensa e do procurador do Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo. “Atacam a imprensa como se fosse ela responsável pelos desatinos que tomaram conta do país e por último, ao não terem argumentos para confrontar o trabalho precioso e extremamente qualificado do procurador do Tribunal de Contas, Júlio Marcelo, buscam ataca-lo, o denunciam. Mas não, nada superará a verdade, absolutamente nada falará mais alto do que os altos que aqui hoje estamos julgando”, disparou.

Sobre as acusações que pesam contra a presidente afastada o senador avaliou que são menos numerosas do que poderiam ser. “Fazemos esse julgamento por apenas duas questões os decretos ilegais e os empréstimos fraudulentos e fazemos isso porque o artigo 86 da Constituição no seu parágrafo quarto, e que precisará ser corrigido, impede a senhora presidente da República de responder por crimes ocorridos ou cometidos anteriormente a sua posse desse segundo mandato”, disse.

O tucano também aproveitou seu tempo na tribuna para usar argumentos que se aproximam mais da realidade da população brasileira, citando números de desempregados, de pessoas endividadas e da inflação que recai sobre os alimentos. Porque se assim não fosse senador Caiado, a lista de crimes seria muito mais extensa, porque na verdade as duas consequências distintas dessas ilegalidades estão claras: uma é o processo judicial do qual a presidente da República responde e, acredito eu, terá como consequência o seu afastamento definitivo. Mas existe uma outra consequência, muito mais perversa, danosa... A consequência desses atos ilegais foi a perda de credibilidade do país, foi o aprofundamento da crise econômica com seus reflexos nas vida cotidiana dos brasileiros, a consequência mais perversa dos atos da senhora presidente são os 12 milhões de desempregados, cinco milhões apenas após a sua eleição, são 60 milhões de brasileiros com suas prestações atrasadas, as oito milhões de famílias que retornam as classes D e E, são os cortes dos programas sociais do governo... A face mais perversa desses crimes cometidos está na inflação de alimentos de mais de 16%, apenas nos últimos 12 meses”, garantiu.

Ao mencionar a campanha presidencial de 2014, Aécio frisou ter alertado a adversária sobre a crise econômica, a inflação e a acusou de que ter como prioridade vencer as eleições em detrimento da situação do país. “Me lembro que na campanha de 2014, em inúmeros debates apontei a presidente que a inflação estava renitente e continuaria a subir, ela disse que estava próxima de zero e que não havia nenhuma medida a tomar. Alertei para o baixíssimo crescimento da nossa economia naquele ano e que acabou nos levando a maior a recessão da nossa história republicana e a presidente dizia que não acreditava naqueles números. Disse a presidente no dia 20 de outubro, a uma semana da eleição, que as pedaladas fiscais que ela estava patrocinando eram crime de responsabilidade e ela ainda iria responder por aquilo, ela desdenhou. Porque existia algo que prevalecia no grupo que governava o país umas prioridade acima de qualquer outra, vencer as eleições e por isso se apoderaram do estado nacional com a sensação da impunidade, de estarem acima da lei. Pois bem, o tempo passou e a resposta está aí. Foram os brasileiros sim que nas ruas disseram que esse governo não tinha mais legitimidade para nos governar, porque venceu as eleições com inverdades e com ilegalidades e continuou governando cometendo crimes”.

Acreditando que Dilma sofrerá o impeachment, o parlamentar modulou o tom do seu discurso para um mais voltado aos eleitores. “Agora é hora de nós olharmos para frente, termos generosidade para com os brasileiros, principalmente aqueles que menos tem e pensarmos no dia de amanhã, no dia seguinte. O Brasil precisa de um conjunto de reformas estruturantes que demandarão do próximo governo coragem, ousadia e determinação. Nós estaremos ao seu lado para construir o Brasil a partir dessa nova agenda um tempo de esperança, um tempo de confiança”. Ele complementou dizendo que a partir do afastamento de Dilma o país se tornará “democrático”. “Hoje o Brasil pode dizer: temos democracia, sim respeitamos a Constituição e vamos punir quem não a respeitou. O que vai ficar de todo esse episódio é um país mais forte, mais respeitado interna e internacionalmente porque cumpriu a lei”.

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