Saída de Mandetta: Bolsonaro não gosta de ser contrariado

O bom desempenho do agora ex-ministro da Saúde não foi considerado pelo presidente, que fez valer a força de sua caneta

qui, 16/04/2020 - 18:32
Isac Nóbrega/PR Isac Nóbrega/PR

Chegou ao fim a trajetória de Luiz Henrique Mandetta (DEM) no Ministério da Saúde. Nesta quinta-feira (16), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criou forças e demitiu o ministro, algo que já era esperado, tendo em vista as desavenças públicas do líder do país contra os posicionamentos de Mandetta, diante do enfrentamento ao novo coronavírus.

Eram duas perspectivas: Bolsonaro defende o fim do isolamento, mantendo apenas as pessoas mais velhas e aquelas portadoras de algumas doenças crônicas em casa; Mandetta determinou o isolamento completo das pessoas, mantendo apenas a circulação daquelas que trabalham em empresas tidas como essenciais.

Bolsonaro é a favor do uso da cloroquina para combater os casos de coronavírus no Brasil, tendo, inclusive, mencionado a substância durante pronunciamento em cadeia nacional; Mandetta, que é médico, se coloca contra o uso dessa medicação, tendo em vista que não existem estudos aprofundados sobre como é o funcionamento desse remédio no combate ao Covid-19.

A cloroquina, que é usada contra a malária e outras doenças autoimunes, vem sendo testada em todo o mundo para que a comprovação dos efeitos seja confirmada. Jair Bolsonaro chegou a pedir um decreto ao ministro que liberasse o uso da medicação em pacientes com coronavírus no Brasil. O ministro, porém, recusou-se a assinar o documento por falta de embasamento científico e propôs um debate com a sociedades brasileiras de imunologia e anestesia.

Talvez, a gota que fez o balde transbordar foi a entrevista do ministro ao Fantástico, no último domingo (12). Como um recado ao presidente, Mandetta cobrou uma "fala única" sobre o problema para não confundir a população. Essa gota d'água chegou, mas antes Bolsonaro ensaiou a demissão do seu ministro, o que só não aconteceu porque parte de seus defensores e aliados não concordavam com a exoneração de Mandetta, tendo em vista o seu bom desempenho no combate a pandemia no país - o que não foi suficiente dessa vez.

Luiz Henrique Mandetta chegou a admitir ter cometido erro estratégico ao elevar o tom do embate com o presidente Jair Bolsonaro sobre a conduta do governo no enfrentamento ao coronavírus. Toda essa movimentação, ‘disse e não disse’, Bolsonaro chegou a se reunir na última terça-feira (14), com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM). Essas conversas do presidente com dirigentes e siglas do Centrão estavam mais intensas - o que caracterizava uma movimentação para a saída de Mandetta.

A última coletiva à frente do Ministério Saúde, nesta última quarta-feira (15), já foi feita com um tom de despedida. Foram três meses de enfrentamento ao novo coronavírus com Mandetta no comando. Esta semana, de uma vez só, o alto escalão foi se desfazendo com os dois principais auxiliares - o secretário-executivo João Gabbardo e o secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson de Oliveira, abandonando o barco.

Nesta quinta (16), foi o adeus proporcionado pelo presidente. Mesmo os 76% de aprovação de sua gestão, Luiz Henrique Mandetta foi demitido e tem como substituto o oncologista Nelson Teich. "Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", escreveu Luiz Henrique por meio de sua conta no Twitter.

 

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