Bolsonaro fala sobre leite condensado e xinga a imprensa
Em almoço que reuniu ministros, aliados e cantores sertanejos em uma churrascaria de Brasília, o presidente - sem apresentar números - disse que na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, a despesa foi maior
O presidente Jair Bolsonaro reagiu nesta quarta-feira (27) a críticas que tem recebido pelo gasto de R$ 15 milhões com leite condensado por órgãos da administração federal no ano passado. Em almoço que reuniu ministros, aliados e cantores sertanejos em uma churrascaria de Brasília, o presidente atacou a imprensa com xingamentos e, sem apresentar números, disse que na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, a despesa foi maior.
"Quando vejo a imprensa me atacar dizendo que comprei 2,5 milhões de latas de leite condensado, vai pra p* que o pariu, imprensa de m*! É pra enfiar no r* de vocês da imprensa essas latas de leite condensado", disse Bolsonaro ao microfone, em discurso para os demais convidados. A churrascaria foi fechada para receber o grupo, mas um vídeo com as declarações do presidente foi divulgado nas redes sociais. "Não é pra Presidência da República essa compra de alimentos, até porque nossa fonte é outra. (É) Alimentação de 370 mil homens do Exército, (para) programas de alimentação do Ministério da Cidadania, do Ministério da Educação..."
O almoço, realizado hoje, em uma churrascaria lotada, reuniu cantores como Netinho, Naiara Azevedo, Amado Batista e Sorocaba e os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Gilson Machado (Turismo), Fábio Faria (Comunicações), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), além dos secretários especiais de Cultura, Mario Frias, e da Pesca, Jorge Seif.
Alguns parlamentares também estavam no encontro, além do filho mais novo do presidente, Jair Renan, do pai do jogador de futebol Neymar Jr, Neymar da Silva Santos, e do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB.
Apesar da fala do presidente, o montante gasto, revelado pelo site de notícias Metrópoles, deixa claro que o valor diz respeito a toda administração federal e não apenas à Presidência. De acordo com a reportagem, o gasto global do Executivo federal com alimentos e bebidas registrou um aumento de 20% em relação a 2019. Neste total estão ainda despesas de cerca de R$ 2,2 milhões com chicletes e R$ 32,7 milhões com pizza e refrigerante, por exemplo.
Bolsonaro chamou a divulgação dos recursos gastos, disponíveis no Painel de Compras atualizado pelo Ministério da Economia, de "acusações levianas". O presidente prometeu falar sobre o assunto na live semanal de amanhã, 28, ao lado do ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário.
"Amanhã na live, junto com o ministro Wagner Rosário, da CGU, vamos demonstrar tudo isso. Inclusive que em 2014 a Dilma comprou mais leite condensado do que eu", disse.
O almoço comemorativo que lotou uma churrascaria na Vila Planalto, em Brasília, não estava previsto na agenda oficial do presidente. No restaurante, Bolsonaro agradeceu o apoio de representantes da indústria da música e recorreu a um discurso ideológico ao relembrar sua eleição para presidente.
"Vocês foram uma parcela decisiva por ocasião das eleições em 2018, quis Deus que o País acordasse. Há um grande mal que se aproximava, que é o socialismo, o comunismo, o fim da nossa liberdade", disse Bolsonaro em vídeo divulgado nas redes sociais do deputado Carlos Freitas (PSL-SC).
Os cantores endossaram o apoio a Bolsonaro. "É uma honra poder dar voz a um setor tão importante da nossa economia. Obrigado Jair Bolsonaro por ouvir o que o setor de entretenimento tem para falar", disse o cantor Sorocaba, em suas redes sociais. Trechos do encontro foram divulgados pelo cantor em sua página no Instagram.
O vídeo com xingamentos de Bolsonaro à imprensa foi divulgado pelo assessor especial da Presidência da República, Tercio Arnaud, na plataforma Telegram.
No ano passado, Bolsonaro também se reuniu com cantores sertanejos, recebidos em 29 de janeiro no Palácio do Planalto.
Antes do encontro de hoje, Bolsonaro esteve no Ministério da Economia, onde se reuniu com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci. Ele prometeu dar uma resposta, em até duas semanas, sobre medidas de apoio ao setor de bares e restaurantes, impactados por medidas de restrição de funcionamento em razão do avanço da pandemia da Covid-19.
Da sede da pasta da Economia, o chefe do Executivo seguiu para o restaurante com Solmucci, que também participou do almoço.