The Guardian considera Bolsonaro uma ameaça ao planeta
Além do crescimento do desmatamento e da pandemia no Brasil, o editorial do jornal britânico destacou às ameaças do presidente ao Estado democrático
O jornal britânico The Guardian publicou um editorial, nessa segunda-feira (5), em que avaliou o extremismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma ameaça ao mundo. Além de fragilizar a democracia em rompantes autoritários, negligenciar a preservação da Amazônia e pelo 'tratamento desastroso' da pandemia, a publicação sugere que seu impeachment será ‘bem-vindo para o planeta’.
O mundo teme o Brasil e já o trata como "persona non grata" pela falta de comando federal no enfrentamento adequado à Covid-19, que se agrava pela variante mais contagiosa, a P1. Enquanto a vacinação corre mundo a fora, Bolsonaro ainda se prende em contrapor todas as medidas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e estimula um falso tratamento com, pelo menos, três substâncias sem eficácia comprovada contra o vírus.
"O pesadelo se revelou ainda pior na realidade", considera no texto "Jair Bolsonaro: um perigo para o Brasil e para o mundo". O jornal lembra dos elogios do então deputado federal à tortura e ao regime de exceção no país, e os ataques contra mulheres, gays, quilombolas e minorias antes de assumir a chefia do Planalto.
A crise administrativa exposta pelo pacotão de troca de seis ministérios em um único dia e a demissão dos três comandantes das Forças Armadas foi mais um flerte com a intransigência. "O gatilho imediato para as demissões foi o retorno bombástico do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, depois que um juiz anulou suas condenações criminais - abrindo a porta para ele concorrer novamente no ano que vem", sugere a publicação.
"É possível que, inspirado por Donald Trump, o Sr. Bolsonaro pense em se agarrar ao poder pelo uso da força? Não. É provável", alerta o The Guardian, que também adverte pelos reflexos da movimentação. "Embora a saída dos chefes das forças armadas possa sugerir resistência a um plano de golpe, também permite ao presidente instalar aqueles que ele julga mais obedientes; os oficiais mais jovens sempre foram mais entusiasmados com Bolsonaro".
O veículo britânico ainda ressalta a instabilidade do jogo político brasileiro, que apoiou Bolsonaro quando necessário, mas já se distância do gestor por sua falta de governabilidade. "A possibilidade do retorno de Lula é suficiente para concentrar mentes da direita em encontrar um candidato alternativo, menos extremista do que Bolsonaro. Pode ser irritante ver aqueles que ajudaram sua ascensão se posicionarem como os guardiões da democracia, ao invés de seus próprios interesses. Mas sua saída seria bem-vinda, pelo bem do Brasil e do planeta", complementa.