Joice Hasselmann: 'Aras é um capacho de Bolsonaro'

Deputada acredita que Bolsonaro consegue "se blindar" por aparelhar as principais instituições do seu governo, começando pela Procuradoria-Geral da República

por Vitória Silva qui, 01/07/2021 - 11:41
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Joice Hasselmann, ex-líder do governo Bolsonaro. Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Ex-líder do governo na Câmara, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) disse nesta quinta-feira (1º) que o procurador-geral da República, Augusto Aras, é um capacho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que faz interferências em diferentes setores para criar uma "blindagem". A parlamentar também diz que, a partir dessa movimentação, o presidente paga um "aluguel caríssimo" para se manter no poder. As declarações foram feitas em entrevista ao UOL, na qual a deputada também comentou a sua participação no "superpedido" de impeachment nessa quarta (30), junto ao centrão e à esquerda.

“Por que as coisas não explodem? Porque o Bolsonaro aparelhou tudo. Ele colocou um PGR que é um capacho dele. Ele está blindado. No Supremo [Tribunal Federal], ele deu uma ajeitada em parte. Na polícia federal ele interferiu, fez uma intervenção direta que gerou a saída do Moro. Então, ele pegou o estado brasileiro e criou instituições para chamar de suas. O que é algo absolutamente grave. Essa blindagem e dinheiro que ele jorra dentro do Congresso e jorra debaixo do nariz de todo mundo, para senador e para deputado é o que mantém o presidente hoje no poder. Ele paga aluguel e um aluguel caríssimo para se manter dentro do poder”, afirma a ex-bolsonarista.

Joice Hasselmann comentou a transição do governo e sua permanência como governista até a aprovação da reforma da previdência. Segundo a oposicionista, muitas pessoas de dentro do governo viram as bandeiras base sendo retiradas, em principal a bandeira anticorrupção, grande mote da campanha de Jair Bolsonaro que o levou à vitória em 2018.

“Eu saí com o barco lá em cima, mas tem gente que vai sair com o barco afundando. Aquelas promessas todas eram mentiras e a corrupção era latente, está latente dentro do governo. O escândalo da vacina vai dar cadeia e também para gente ligada diretamente ao Palácio do Planalto. O atual presidente tem a mania de colocar sempre o problema em alguém. A culpa é sempre de alguém, nunca dele. Ele treina o cachorro para morder, adestra e manda o cachorro morder, mas daí ele diz: ‘não, a culpa é do cachorro’. Mas o dono do cachorro também tem culpa. O Bolsonaro é o dono do esquema, e o Flávio é o sócio”, continuou a deputada.

Após relatar Bolsonaro como mandatário e seu filho como sócio de esquemas supostamente ilegais, Joice diz não achar normal o alto custo de vida de Flávio Bolsonaro, insinuando que o benefício próprio através do dinheiro público é algo “escancarado” pela família.

"Eu percebi que figuras do autoexecutivo do meu partido fazem negócio com Flávio Bolsonaro. Ai o cabra [Flávio] compra uma casa de R$ 6 milhões em Brasília. E, veja, ele não compra uma casa de R$ 6 milhões usando o salário de senador. Eu sei quanto ganha um senador e um deputado. Agora você soma: duas filhas na escola, mulher, soma tudo que você tem de despesa e ele vive muito bem e você vai ver que não sobrou um centavo e está faltando dinheiro. Eles não escondem. É debaixo do nariz de todo mundo. Está na cara que é esquema e que é roubo", afirmou.

Segundo Joice, ela sempre soube que o presidente era um "tosco", mas acreditava que ele fosse honesto e por isso prestou apoio ao mandatário anteriormente como líder do governo na Câmara entre fevereiro e outubro de 2019. A parlamentar ainda disse que Bolsonaro é "ladrão", assim como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT).

"Eu sempre soube que o Bolsonaro era tosco. Burrão mesmo. Eu dizia isso para ele. Eu acreditava que ele fosse honesto. Um burro honesto, um estúpido honesto você resolve com pessoas qualificadas em volta. Sempre foi um ogro, mas que se apresentava como um ogro honesto. Quando eu vi que ele era desonesto, ai acabou. Eu não tinha onde me agarrar mais. Como é que eu vou me agarrar? O 'cabra' é grosso, mal-educado, machista, cavalo mesmo, ele não respeita os outros, mas é desonesto, é ladrão. Mas ele não roubou como o Lula? Amigo, roubar é roubar”, concluiu.

Eleições de 2022

A parlamentar discorda da narrativa de que Bolsonaro representa a direita. Joice ainda aproveitou para explicar porque estava ontem (30) ao lado de petistas e partidos de esquerda durante a entrega do "superpedido" de impeachment de Bolsonaro. Segundo ela, o encontro aconteceu única e exclusivamente porque concorda, assim como os outros partidos, com a saída do mandatário do poder. "Eu sou contra o Lula, vou continuar sendo contra o Lula. Eu sou nem-nem. Nem lula, nem Bolsonaro.".

Joice apontou a necessidade de a direita se organizar para poder concorrer nas eleições presidenciais de 2022. "E a direita precisa se organizar e entender que existe uma direita estúpida, radical, burra, extrema. Tudo que é extremo é burro, do mesmo jeito que a extrema-esquerda é burra porque coloca ideologias acima de qualquer coisa. O que nós temos que fazer é organizar essa direita centrada, que consiga pegar pessoas que realmente queiram o combate à corrupção e pessoas da direita até o centro-esquerda [para concorrer nas eleições]”.

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