Discurso de Bolsonaro na ONU foi desconectado da realidade

O cientista político Rodolfo Marques avaliou o pronunciamento do brasileiro frente aos principais chefes de Estado do mundo na Assembleia Geral da ONU

ter, 21/09/2021 - 13:53
Alan Santos/PR Como tradição, o Brasil, representado por Bolsonaro, abriu a Assembleia Geral da ONU Alan Santos/PR

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na manhã desta terça-feira (21), em Nova Iorque, expôs o Brasil de forma negativa diante dos principais chefes de Estado do planeta. Sem se amparar em fatos reais, Bolsonaro jogou fora a oportunidade de se comunicar a nível internacional para discursar aos seus eleitores, como em suas lives semanais, aponta o cientista político Rodolfo Marques.

“Pronunciamento vexatório que mais uma vez expôs o Brasil nesse contexto internacional de uma maneira negativa”, descreveu o estudioso, que identificou uma leitura desamparada dos fatos por parte do presidente ao iniciar o discurso alegando que o país beirava o socialismo antes da sua eleição.

"Na verdade isso nunca aconteceu aqui no Brasil, mas faz parte da estratégia da guerra cultural que ele vem travando desde as eleições de 2018". Ele recebeu a faixa presidencial de Michel Temer (MDB) e convocou o próprio Temer para mediar a trégua com o Supremo Tribunal Federal (STF) após convocar atos antidemocráticos para o último 7 de setembro. "O que ouvimos foi mais do mesmo, basicamente o presidente falando, para seus eleitores, para seus seguidores", pontuou.

A posição de ultraconservadora justificada pela reiterada defesa do que entende como 'família tradicional' pode ser equiparada ao discursos dos líderes extremistas da Polônia e da Húngria. Marques também contrariou o trecho sobre a suposta 'inocência' do Governo Federal em casos de corrupção. "Os fatos na verdade indicam o contrário [no núcleo familiar], principalmente em relação à CPI da Covid, a questão da compra das vacinas", apontou.

Único dos líderes que não foi imunizado contra a Covid-19, Bolsonaro foi obrigado a usar máscara para ter acesso à sede da ONU e, mais uma vez, defendeu o falso tratamento precoce, além de voltar a fragilizar a vacinação. "Ele fez um discurso desconectado da realidade. O Brasil beira as 600 mil mortes e, na verdade, entrou muito atrasado nessa corrida por vacinas. [o tratamento precoce foi] cientificamente comprovado que não funciona, mas ele continuou defendendo", criticou.

"O Brasil enfrenta um dos piores cenários em relação a queimadas, desmatamento, chama atenção do ambiente internacional em relação a isso e o Brasil vem realmente batendo pino, vem tendo muitas dificuldades em relação a esse aspecto", rechaçou o cientista aos comentários do presidente sobre defesa e investimentos na preservação do Meio Ambiente.

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