Bolsonaro pode ‘vitaminar’ o PL, diz cientista político

Assim como o ex-presidente Lula (PT), Jair Bolsonaro é um líder carismático, que conseguiu estabelecer uma base eleitoral sólida e apoiadores inamovíveis

por Jameson Ramos ter, 30/11/2021 - 19:22
Reprodução Filiação aconteceu nesta terça-feira (30) Reprodução

Depois de se tornar o primeiro presidente da República a governar sem estar filiado a nenhum partido político por dois anos, nesta terça-feira (30), Jair Bolsonaro oficializou a sua filiação ao PL. O cientista político Elton Gomes afirma que a legenda pode ser “vitaminada” com a chegada de Bolsonaro.

Elton aponta que, assim como o ex-presidente Lula (PT), Jair Bolsonaro é um líder carismático que conseguiu estabelecer uma base eleitoral sólida e apoiadores inamovíveis. “Isso representa uma potência eleitoral para a legenda que tem como candidato à Presidência da República um filiado”, diz.

O estudioso relembra o ‘efeito Bolsonaro’ que fez com que o então nanico PSL passasse de apenas um deputado (Luciano Bivar) para 54 parlamentares em 2018, com Bolsonaro disputando a Presidência pelo partido.

“O PSL era praticamente uma propriedade particular do Luciano Bivar, e foi elevado ao maior partido da Câmara dos Deputados, com 54 parlamentares - que depois diminuiu para 52 deputados. Então, é provável que a ida de Bolsonaro para o PL vitamine muito o partido”, salienta.

Já existe uma movimentação onde parlamentares do próprio PSL, que continuam fiéis ao presidente Jair Bolsonaro, sinalizam que devem deixar o partido para disputar uma reeleição pelo PL. “Porque eles se elegeram no esteio do bolsonarismo e maioria reconhece que não tem força política própria. Tem força associada ao próprio Bolsonaro, o que é muito racional”, complementa Elton Gomes.

Saídas do PL

Imposições de Jair Bolsonaro, acordos políticos estaduais e diferenças ideológicas devem fazer com que ao menos cinco deputados federais deixem o PL e procurem outra legenda para disputar as eleições de 2022. Três desses deputados são do Nordeste e dois são do Norte. 

Junior Mano (CE), Fabio Abreu (PI), Sergio Toledo (AL), Cristiano Vale (PA) e Marcelo Ramos (AM). A maioria desses parlamentares apoiam, em seus estados, governantes que são de esquerda. Bolsonaro já declarou que o PL não deverá apoiar nenhum candidato de esquerda no país.

O cientista político avalia que os políticos que já estão no PL não perdem nada com a ida do presidente. “Pelo contrário, eles ganham o poder de barganha. Se aumentar o tamanho do partido, o PL passa a dispor de uma fatia maior do fundão eleitoral que foi aprovado pelo Congresso. 

Retorno de Bolsonaro ao Centrão

Mesmo já tendo integrado o Centrão na época que atuava como deputado federal pelo PP, por exemplo, Bolsonaro se elegeu em 2018 criticando esse grupo de 14 partidos que atualmente conta com 260 parlamentares. Antes de se tornar presidente, ele costumava chamar o Centrão de “velha política”.

Bolsonaro até tentou no primeiro ano do seu mandato governar sem fazer barganhas políticas, mas não demonstrou força e depois acabou distribuindo cargos e dinheiro para esse grupo. Elton explica que, dentro do nosso modelo de governo, que é o presidencialismo de coalizão, não é viável governar sem o apoio do Centrão ou de pelo menos parte considerável dele. 

“Bolsonaro é um ator político bastante peculiar. Ele é originário desse grupo político, que chegou ao poder sem o apoio dos grandes partidos, por isso tentou governar no início do seu mandato sem se entregar ao esquema de barganhas e trocas, caracterizador do sistema de presidencialismo brasileiro. Todavia, no final do seu primeiro ano de governo, Bolsonaro começou a fazer acenos para algumas bancadas”, fala o estudioso.

O que a oficialização do retorno de Bolsonaro para o Centrão pode representar para o seu eleitorado? O cientista salienta que, no Brasil, as legendas importam muito pouco porque os partidos políticos são pouco programáticos e pouco consistentes na questão ideológica. 

“O Brasil vive muito o personalismo da vida pública, que é potencializado pelo messianismo político, tendência de procurar sempre os salvadores da pátria”, pontua. 

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