Chuva, morte e desabrigados: politização da tragédia em PE

Até diante dos desastres os embates políticos permanecem

por Jameson Ramos qua, 01/06/2022 - 15:57

Em quase duas semanas, Pernambuco viveu o que pode ser considerado uma de suas piores tragédias. Dados atualizados até o início da tarde desta quarta-feira (1º), mostram que as chuvas intensas que caíram no estado deixaram 106 pessoas mortas, 6.650 desabrigados e 9 desaparecidos. Em ano de eleição, alguns pré-candidatos fazem a politização da tragédia. 

O pré-candidato ao governo de Pernambuco, Danilo Cabral (PSB), chegou a acusar o presidente Jair Bolsonaro (PL) de usar as chuvas no estado como palanque eleitoral. Isso porque o mandatário tem sua gestão desaprovada por 62,6% dos pernambucanos, segundo última avaliação do Paraná Pesquisa.

Na visão do pessebista, Bolsonaro politizou a tragédia. "Além da Covid, Bolsonaro desprezou vidas nas tragédias recentes que aconteceram em São Paulo, Bahia e Rio. Agora, em Pernambuco, tenta usar as chuvas como palanque. A ajuda do Governo Federal é sempre bem-vinda, mas é um absurdo tentar tirar proveito eleitoral em cima de uma catástrofe", afirmou Cabral.

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Na manhã da última segunda-feira (30), o presidente sobrevoou alguns locais afetados pelas chuvas, mas não desceu em nenhum deles e justificou não ser possível por se tratar de áreas de risco. Acompanhado por ministros do Desenvolvimento Regional, Turismo, Cidadania, Saúde e Justiça, o presidente concedeu uma entrevista na Base Aérea do Recife. 

Além da equipe de ministros, o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Luiz Medeiros (PSC) e o deputado federal Pastor Eurico (PL), o pré-candidato ao governo de Pernambuco Anderson Ferreira (PL), o deputado Coronel Alberto Feitosa (PSC) e o deputado André Ferreira (PL) se encontraram com o presidente da República. Esse encontro motivou o discurso de palanque de Bolsonaro no estado.

Comitiva do presidente no Recife. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

O governador Paulo Câmara justificou que não havia sido convidado para participar da comitiva. O que foi desmentido por Jair Bolsonaro, que aproveitou para atacar o seu desafeto político.

"O momento não é de fazer política, ele tem o candidato dele, [mas] quem vai decidir é a população. Agora, em um momento de crise, você vai atrás para ajudar, não fica esperando ser chamado dentro de casa", disparou - também levantando a tese de que Câmara não teria participado por questões políticas, já que o PSB está na base de apoio do ex-presidente Lula (PT) nas eleições deste ano. 

“Acho que faltou iniciativa da parte dele também, aqui ninguém tá proibido de comparecer nesse momento. Foi amplamente divulgado pela mídia a nossa presença aqui, e isso tudo aconteceu sábado e domingo, se o governador estava fazendo outra coisa eu não sei, e talvez acho melhor não estar presente aqui”, acrescentou.

Análise

O cientista político Caio Souza, analisa que a vinda do presidente teria que acontecer de toda forma, "visto que é o que se espera de um Chefe de Estado diante dos acontecimentos como os que temos enfrentado. Se Bolsonaro não viesse, seria igualmente criticado sob o argumento de que não deu assistência necessária", diz.

Para o estudioso, vindo ou não, o mandatário seria alvo de críticas, principalmente por estarmos em ano eleitoral, onde até os atos necessários serão julgados como eleitoreiros. Apenas com a vinda do presidente não é possível extrair um juízo negativo".

Caio assevera ainda que tudo o que está acontecendo em Pernambuco com crianças sem leitos de UTI, queda de parte do forro do Hospital da Restauração e, claro, os desastres com as chuvas, devem ser politicamente explorados pelos adversários do PSB, que já comandam Pernambuco por quase 20 anos, e ignorados por aliados.

"Tragédia ou não, se existia um dever de atuação preventiva da administração do Estado, certamente isso será explorado por adversários e ignorado por aliados", reforça o cientista político.

Ele acentua que a politização de tragédias é sempre uma ferramenta política dos adversários. "Aproveita-se o momento de maior sensibilidade da população quando a determinado tema e usa-se disso para fins eleitoreiros de forma positiva ou negativa", pontua.

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