Lula ataca Bolsonaro por uso eleitoral do Auxílio Brasil

Segundo o ex-presidente, o programa virou a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu no país

ter, 09/08/2022 - 13:11
Ricardo Stuckert Lula segurando o microfone com a mão direita e o braço esquerdo erguidoa Ricardo Stuckert

Diante de empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nesta terça-feira (9), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou o Auxílio Brasil aprovado no governo de Jair Bolsonaro (PL), defendeu que o País "retorne à normalidade" e enalteceu sua parceria com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB). Ele também fez defesa enfática das urnas e do processo eleitoral.

"Como a gente pode viver em um país em que o presidente conta sete mentiras por dia? Que chama uma carta que defende a democracia de cartinha? Quem sabe a carta que ele gostaria de ter é um feita por milicianos no Rio de Janeiro. E não uma carta feita por empresários, intelectuais defendendo o regime democrático, defendendo a urna eletrônica", disse Lula, que fez uma defesa enfática do atual processo eleitoral. "Que negócio é esse de as Forças Armadas fiscalizarem as urnas? Os militares têm de fiscalizar nossas fronteiras", afirmou. Lula disse que o País vive uma crise de governabilidade e uma crise de "falta de sintonia" entre o estado e instituições que são a garantia do próprio estado.

Sobre o Auxílio Brasil, Lula afirmou que o País está assistindo à "maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do Império". "Me preocupa se o povo aceitará pacificamente a retirada desses benefícios depois das eleições", disse.

Defesa de Alckmin

Ao tratar de sua parceria com Alckmin, disse que a aliança é "uma das grandes novidades políticas desse país". "Já fomos adversários. Esse jeitão dele bonzinho não foi tão bom na campanha. Eu tô com as canelas até agora machucadas", disse Lula, arrancando risos da plateia. "E eu e ele resolvemos relegar a segundo plano e compor uma chapa", afirmou o petista.

"Caneladas passam, é preciso olhar para o futuro", disse Alckmin, que voltou a repetir que o "hit" agora é "lula com chuchu".

"Essa junção só pode fazer as pessoas entenderem que não aconteceria se nós não tivéssemos convicção da nossa responsabilidade. Até porque estamos pegando um Brasil um pouco pior do que o que eu peguei em 2003, com um agravante, que é a falta de credibilidade internacional", disse Lula.

O ex-presidente lembrou de seu relacionamento com José Alencar, que foi seu vice-presidente em dois mandatos e é o pai de Josué, presidente da Fiesp. O petista disse que Alencar era tratado como presidente, e não como vice, e prometeu a Alckmin "você também vai ser tratado assim".

O economista e ex-presidente do BNDES André Lara Resende chegou à Fiesp acompanhando a comitiva do PT. Lula estava com o coordenador de seu plano de governo, Aloizio Mercadante, o candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-chanceler Celso Amorim, o ex-governador do Piauí Wellington Dias e o ex-ministro Luiz Dulci.

Lula tem ampliado o diálogo com o empresariado de diferentes setores, para tentar desfazer o mal-estar entre atores econômicos com o PT. A ida da comitiva petista à Fiesp é um sinal desse novo momento. Antes, sob o comando de Paulo Skaf, a Fiesp patrocinou uma campanha contra medidas adotadas no governo Dilma Rousseff. O "pato da Fiesp", mascote da ação da entidade, tornou-se um símbolo dos protestos contra Dilma, que foram cruciais para o caldo político e social que culminou no impeachment da petista.

O bom relacionamento de Lula com Josué Gomes da Silva já fez com que ele fosse cotado para ser vice do petista na eleição de 2018. Na época, o empresário era filiado ao então PMDB. No ano passado, a Fiesp recuou da ideia de divulgar um manifesto em defesa das instituições - e oposição aos atos de 7 de setembro contra o Supremo Tribunal Federal que vinham sendo convocados por bolsonaristas. Neste ano, por outro lado, a entidade está na liderança de um movimento pela defesa da democracia e do processo eleitoral articulado por empresários e sociedade civil, que deve culminar com um ato no dia 11 de setembro na Faculdade de Direito da USP.

Aliados

Alckmin agradeceu "a posição da Fiesp na defesa da democracia". "As pessoas passam, as instituições ficam. O que precisamos é ter boas instituições. A nação é mais importante que o governo. O governo é o braço político do estado. A nação é nossa língua, nossa cultura, nossa religião. A luta dos que já morreram. A nação assinou a carta aos brasileiros", disse Alckmin.

Alckmin afirmou ser necessário acompanhar os empresários em "preocupações" expostas pelo presidente da Fiesp, como a "competitividade", o combate à inflação, e o crescimento com sustentabilidade. "E, aqui, bem colocado, os acordos internacionais. O presidente Lula é um homem reconhecido no mundo inteiro e vai recolocar o Brasil na economia mundial", disse o ex-governador.

Lula passou a palavra a Mercadante e a Alckmin antes de discursar. Ao iniciar seu pronunciamento, Mercadante, que foi derrotado por Alckmin na disputa pelo governo de São Paulo em 2010, também elogiou a união do ex-tucano com Lula. A aliança, disse ele, é "improvável, imprescindível nesse momento do país e complementar".

Engrossando o coro de Lula, Mercadante também criticou o modelo do auxílio emergencial. "Uma das nossas elaborações é o novo Bolsa Família, que é muito melhor do que essa compra de voto que estamos vendo", afirmou. Em seu discurso, Mercadante ainda afirmou ser inegociável a presença de políticas sociais de combate à fome e à pobreza no governo. "Precisamos de um programa de renda exitoso como foi o Bolsa Família", disse.

O ex-ministro também pregou que o País volte a investir em infraestrutura, amplie investimentos na área de tecnologia e falou sobre a necessidade de ter uma agenda econômica sustentável. Mercadante voltou a defender o papel do BNDES para que a indústria retome seus investimentos.

O ex-ministro ainda disse que o BNDES deve aumentar sua presença nos investimentos para micro e pequenas empresas, e também no fomento de concessões. E ressaltou que o PT é favorável às concessões à iniciativa privada, e às Parcerias Público Privadas. "Nós fizemos dez vezes mais concessões do que o governo FHC e três vezes mais que Bolsonaro e ele pegou o modelo pronto que nós fizemos", disse.

Lula já esteve na Fiesp em julho, para um almoço organizado por Josué Gomes da Silva. Na ocasião, o encontro foi reservado com nomes do empresariado de diversos setores - não apenas do industrial. A reunião desta terça-feira faz parte das rodadas de conversas que a Fiesp tem organizado com todos os candidatos à Presidência. Bolsonaro havia confirmado participação no dia 11, mas cancelou a presença e não remarcou nova data.

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