Bolsonaro é alvo de ação de vereadoras por homofobia
Segundo as parlamentares, o chefe do Executivo cometeu crime de LGBTQfobia ao relacionar, de forma pejorativa e preconceituosa, a doença varíola dos macacos (monkeypox) com representantes da comunidade LGBT+
A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) e a vereadora suplente de Porto Alegre Natasha Ferreira (PSOL) acionaram o Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira, 10, contra falas homofóbicas do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante participação no "Flow Podcast" na segunda, 8. Segundo as parlamentares, o chefe do Executivo cometeu crime de LGBTQfobia ao relacionar, de forma pejorativa e preconceituosa, a doença varíola dos macacos (monkeypox) com representantes da comunidade LGBT+.
Durante a entrevista, Bolsonaro perguntou ao apresentador Igor Coelho se ele tomaria vacina contra a varíola dos macacos. Coelho afirmou que sim, e o presidente, em tom irônico, comentou: "Eu tenho certeza que vai tomar... Tu não me engana! Tu não me engana!".
Segundo a ação das vereadoras, é possível encontrar "piadinhas, deboche, ironia e homofobia" em cada palavra dita por Bolsonaro nesse trecho do programa. O tom da conversa deriva do fato de haver alta incidência da doença entre "homens que fazem sexo com homens" (HSH), o que tem proporcionado uma onda de comentários preconceituosos, homofóbicos e desinformação sobre o assunto e as formas de contágio.
A situação é equiparada, para muitos, com o cenário de repulsa que a comunidade LGBT+ viveu na década de 1980, quando foi alvo perseguição motivada pela epidemia do HIV/Aids.
"Fica evidente que os dizeres "tu não me engana, tenho certeza que tu vai tomar e tu não entendeu né?" são claras menções LGBTQfóbicas do presidente, nas quais ele insinua que ao tomar a vacina o entrevistador seria gay e, por isso, estaria preocupado com a doença", afirma o documento.
Ao Estadão, a vereadora Erika Hilton, que é trans, afirmou que a ação é uma forma de impedir que o presidente tente pautar o debate público com violência. "Se tem algo que Bolsonaro aprendeu nesses anos é cometer crimes contando com a impunidade, disfarçando suas falas como piadas. Entramos no Ministério Público novamente, pois nenhum tipo de estigma negativo e violência, desde os mais sutis aos mais explícitos, podem passar impune", disse.
Em rede social, a parlamentar travesti Natasha Ferreira afirmou que o estigma de que a doença está relacionada com comportamento homossexual tem feito parte do discurso de grupos conservadores contra a comunidade LGBT+. "Quando Bolsonaro faz esse tipo de piada nas entrelinhas, tenta se proteger, mas deixa evidente o preconceito e a mensagem de discriminação é entregue. Homofobia é crime no Brasil. Não vamos silenciar", disse.
Mesmo que o vírus tenha se espalhado mais rapidamente entre homens gays e bissexuais, especialistas alertam que a contaminação pode migrar para outros grupos. Em São Paulo, por exemplo, o governo estadual informou na quinta-feira passada, 4, que duas grávidas, cinco crianças e cinco adolescentes foram diagnosticados com a doença.